sábado, novembro 25, 2006

PCP local X PCP nacional



O PCP, recebeu a delegação de moradores e proprietários da Vârzea da Moita que ontem se deslocou à Assembleia da República, a delegação de Munícipes da Moita foi recebida na Assembleia da República no Gabinete do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português,
sem que nenhum Deputado nem nenhum Dirigente do PCP tenha ouvido de viva voz esses Eleitores.

Sobre a indisponibilidade de Deputados e Dirigentes do PCP para receberem a Delegação
"Não compreendemos", disseram
Contudo, acrescentaram esses Eleitores: "Não compreendemos a razão pela qual nenhum Deputado nem nenhum Dirigente do PCP se dignou aceitar receber-nos, nem sequer passar 1 minuto aqui pela Sala, para nos explicar fosse o que fosse e sair correndo logo de seguida para outros afazeres igualmente importantes".
E explicaram com palavras de simpatia, e de clareza, ao Chefe de Gabinete do GP do PCP Augusto Flor e à Senhora Assessora Ana Serrano: "É verdade que nos move a defesa da lei e a exigência de total transparência em todo o Processo de Revisão do PDM da Moita."
"É também verdade que as ilegalidades e a escuridão que parecem rodear todo o Processo estão umbilicalmente associadas à gestão da Câmara da Moita desde há 10 a 12 anos a esta parte, no que à Revisão do PDM diz respeito."
"E é igualmente verdade que a direcção política da Câmara tem sido na Moita de maioria absoluta CDU e do PCP ao longo de todos estes anos."
"Mas só um observador desatento, indisponível para estudar as causas últimas das coisas, poderá daí deduzir que nos move uma luta pela negativa e pela oposição contra a Câmara ou contra a CDU ou o PCP. Nada de mais errado". veja aqui o texto completo ou aqui


O facto de nenhum dirigente ou deputado do PCP receber a delegação dos moradores e proprietários da Várzea da Moita, significa para mim que esse partido está refém dos seus núcleos locais, em que o Núcleo da Moita tem um papel importante, quiçá decisivo, para a estratégia regional do PCP.
A verdade é que o PCP apenas teve uma estratégia nacional em 1974/1975, mas mesmo assim condicionada à estratégia global da URSS, que boicotou na altura a ideia dum Portugal que integrasse o bloco de países socialistas, devido a negociações estratégicas com os EUA, em que, no mapa geopolítico da altura, não havia espaço para um Portugal socialista e sujeito a um bloqueio na Europa parecido com o bloqueio que Cuba já sofria desde 1962 pelos EUA.
No “Tratado de Tordesilhas” dessa época, feito entre os EUA e a URSS, Portugal definitivamente, e por acordo das duas partes, pertenceria ao bloco ocidental, capitalista e membro da NATO. Não foi, ao contrário do que afirma o PCP, por culpa do PS que Portugal não enveredou por um modelo socialista pró-soviético, mas sim por estas negociatas de bastidores dos poderes globais.
O PCP sempre teve na URSS o seu modelo de Socialismo e desde 1936 seguiu as mutações ideológicas do arquismo colectivista de estado que imperou na Rússia. O PCP foi estalinista quando a URSS era Estaline, foi Brejnevista quando a URSS era Brejnev e foi Perestroikista quando Gorbatchev estava no poder.
Nunca houve no PCP, por isso, uma ideia nacional de Socialismo, como aconteceu em Cuba ou como acontece agora na Venezuela com Hugo Chavez. Houve uma ideia importada do modelo socialista colectivista e autocrático da URSS.
Restou, pois, ao PCP um conjunto de poderes locais que foram perdurando a Sul do Tejo e Alentejo.
No Alentejo, a partir de 1976/1977, a reforma agrária acabou, sem nunca ter começado, porque as cooperativas agrícolas não obedeciam a uma estratégia nacional mas sim a miríades visões locais do que seria a colectivização, sem existir governo socialista central nacional. Sem esse centralismo socialista em Portugal, não havia condições para que existisse uma reforma agrária.
O PCP foi ficando refém dos poderes locais na Margem Sul e a Moita é um caso paradigmático, pois consegue estar imutável no mesmo poder desde 1974. Isto, aliado à posição geográfica que ocupa na área da Grande Lisboa e na Península de Setúbal.
O facto da delegação de proprietários e moradores da Várzea da Moita não ter sido recebida por nenhum deputado do PCP na A.R demonstra que o PCP não está a conseguir digerir a contestação local que este grupo de cidadãos lhe está a fazer.
A justeza da luta destes cidadãos incomoda o conservadorismo e a falta de visão nacional do PCP.
É fácil criticar políticas de “direita” no âmbito nacional, quando se parte do princípio que não se chegará nunca ao poder nacional. Difícil é a aceitação e a compreensão dos problemas que estão na base dessa contestação, porque são justas e porque não têm uma estratégia política estanque em Partidos, mas sim a defesa dos interesses próprios desses cidadãos. São os seus direitos e o dos seus descendentes que estão em jogo, por isso são recebidos na A. R. Por todos os partidos, excepto o PCP.
Lamento que o PCP não construa (agora que todos os modelos “socialistas” internacionais faliram) uma estratégia e uma visão nacional de socialismo, que tenha a ver com as pessoas e com a realidade das classes que dizem defender.
O PCP não pode estar refém de poderes locais que, mesmo pertencentes ao mesmo partido, professam e praticam práticas adversa e contrárias aos fundamentos ideológicos do PCP.
O PCP, penso eu, se quer pensar em termos de esquerda e da viabilização de um possível governo de esquerda, deve ser aberto às críticas e mutável à dialéctica actual da sociedade.
Não é fechando-se sobre ele próprio e tentando agarrar-se desesperadamente aos poderes locais que lhe restam.
O PCP tem de tomar consciência que Portugal terá de passar a ser o seu desígnio, se não o fizer, o espectro de esquerda que abrange, será tomado pelo B.E. ou por outro novo partido Socialista que o ocupe.

AV2

4 comentários:

Anónimo disse...

AV2, essa é uma opinião entre tantas outras.

O sonho relativo a uma hipotética posição cimeira, mas não credível pela falta de organização, militância/trabalho, heterogeneidade política... do BE, não passa disso mesmo: um sonho.
Independentemente de outras apreciações, afirmar que o PCP foi dependente, andou a "reboque de situações internacionais" e não possui uma estratégia nacional é desconhecer ou desejar adulterar a sua história e o seu programa.
No respeitante à história recordo que internamente os comunistas portugueses constituiram o único partido, por sua livre e expontânea vontade, a marcar uma posição(sem qualquer determinação externa, o que seria absurdo) e a combater a ditadura fascista do Estado-Novo de Salazar e Caetano. No plano externo, ontém como hoje, faço lembrar as claras posições do PCP, na Internacional Comunista, em defesa da independência de acção política dos partidos comunistas(e de outro modo não teria sentido) em função da realidade histórica, económica, social... de cada país. Não confundir com internacionalismo proletário porque a solidariedade entre os povos, em nada, mas mesmo nada, subjuga a independência de cada um.
Desde 6.Março.1921, data da sua fundação, que programaticamente o PCP defende e pratica uma política "(...)pela liberdade, a democracia, o progresso social, a cultura, a paz, a independência e a soberania nacionais...".
No VI congresso realizado na clandestinidade em 1965, nove anos antes de Abril de 1974, partindo da realidade nacional o PCP definiu um programa para a revolução anti-fascista, cuja natureza e objectivos apontavam uma revolução democrática e nacional.
"Democrática", porque, entre outros aspectos, visava a liberdade política e uma série de profundas reformas que beneficiariam a maioria esmagadora da população portuguesa.
"Nacional", porque pondo termo ao domínio imperialista sobre Portugal e ao colonialismo português em África, asseguraria "a soberania, a integridade territorial e a verdadeira independência do País".
O percurso da história(ou contra-revolução) num sentido diferente do referido e preconizado pelo PCP, tem autores, co-autores e cumplíces:"(...) a colaboração do PS com os sectores mais conservadores e golpistas no novo quadro do poder; o esquerdismo; o anti-comunismo; a ingerência e pressão financeira, económica, política e diplomática do imperialismo- abriram caminho... ao avanço das forças reacionárias e conservadoras...". Culminando no golpe do 25 de Novembro e respectiva aceleração da perversão do regime democrático e a decadência da situação social... de que hoje temos consciência e a maioria da população sente na pele.
Concluo, dizendo que Portugal, como é público e notório, sempre foi o desígnio do PCP. E permita-me dizer que, habilidosa e convenientemente, partir de acontecimentos locais(com muito mais gente a favor do que contra e sem estar questionar a legitimidade das partes) para pôr em causa a estratégia ideológica e política nacionais do PCP é desempenhar,ingenuamente?, um papel que, no passado e no presente, outros(bem mais experientes) tentam sem sucesso.

Anónimo disse...

Por falar em experiência, se este é o legítimo - e parece que é pela álta de imaginação da verborreia - há quem tenha tanto calo e experiência que já não saiba fazer mais do que repetir a tabuada de há 20-30-40-50 anos atrás.
Quem não é deles é contra eles.
Arreie-se o jumento à sua vontade.

Anónimo disse...

Não é verdade que alguns munícipes da Várzea não tenham sido recebidos pelo PCP na Assembleia da República.
Pela indisponibilidade de Agenda, infelizmente impossivel de definir simultaneamente pelos interesses (por mais legítimos que sejam) de todos os grupos de cidadãos, os dois deputados comunistas eleitos por Setúbal não estiveram presentes, mas o PCP na AR não deixou de se fazer representar na reunião em questão. Para o efeito designou a drª. Ana Serrano e o drº. Augusto Flôr, chefe de gabinete do grupo parlamentar e dirigente do PCP.
As questões dos nossos concidadãos (como desejavam e bem) não deixaram de ser apresentadas ao destinatário e registadas por quem de direito. Concederão certamente o favor de admitir ao PCP e só a ele, o direito de definir em cada momento quem, de acordo com a disponibilidade, legitimamente o possa representar.

AV disse...

Olhe que não MM, olhe que não...

Manuel Madeira, eu sei que está expectante sobre a minha resposta, mas quem não o estará ?
As questões por si levantadas, requerem uma resposta ponderada e documentada, fique pois atento à sequela.

AV2