Há quem diga que eu sou casmurro.
Algumas pessoas de família confirmam e adiantam que sou mesmo de ideias fixas.
Pois é.
Lá isso parece que sim.
Parei no tempo.
Sou anacrónico e no Portugal que vamos tendo há muito, cada vez me sinto mais estranho.
Sou dos acreditam que o serviço da res publica deve ser uma honra e que quem exerce o poder político deve fazê-lo por verdadeira adesão aos ideais do bem comum e por vocação.
Não digo que devem fazê-lo de pé descalço e mão estendida.
Como propôs James Carville, afamado consultor político americano, até acho que os políticos devem ser razoavelmente bem pagos para ficarem mais imunes a certas tentações.
Tentações de perpetuação individual ou de grupo no poder.
Tentações de usar os bens públicos em benefício de interesse privados, próprios ou alheios.
Tentações de confundir o exercício do poder com a sua posse.
Tentações de confundirem maiorias eleitorais com cheques em branco.
Ao contrário do que alguns querem fazer crer, aqui no AVP ninguém fica feliz com situações como as descritas no Público de ontem.
Nem ficamos felizes com tanta outra coisa que se ouve e se vê, para além do que agora veio à tona.
Nem ficamos felizes por se ficar a saber que há quem tenha da coisa pública uma noção instrumental.
Mas ficamos felizes por se começar a levantar o véu sobre o modo como a governança local tem aparentemente usado aquilo que é de todos nós - afinal os autarcas são meros depositários da soberania popular para gerirem os destinos comuns da melhor maneira possível - para agrado especial de apenas alguns, com absoluto desrespeito pela letra e/ou espírito das leis e pelo interesse público.
Há muito que a nossa teoria é a de que nesta nossa terra o desinteresse pela preservação da coisa pública vai a par do interesse pela multiplicação da coisa privada.
E a meada é longa, tão longa que a teia que foi sendo tecida se estendeu como um manto opaco sobre nós, quase nos impedindo de ver o que está mesmo à frente dos nossos olhos.
Até acredito que alguns ingénuos acreditem que nada de mal se passou e vai passando.
Mas esses são os idiotas que em todas as aldeias fazem o papel de bobos úteis.
Tudo isto é triste.
Tudo isto é, porém, apenas uma das partes do icebergue de lama.
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2 comentários:
Caro AV
Faço minhas as suas palavras, integralmente e sem mudar virgulas ou pontos.
Até mais.
Quero ler as respostas que vão ser dadas ao jornalista Cerejo que afinal até passaram a 12 mas os assessores andam muito ocupados e não responderam. Quero mesmo ler.
Obrigado pelas digitalizações.
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