segunda-feira, janeiro 10, 2005

12 decisões para o Ano Novo

XI – Como utilizar os filhos – O caso dos nossos

Sou parte interessada (e culpada) neste assunto como qualquer pai que se preze. Não sei se tenho seguido o manual de instruções da boa, razoável ou sofrível paternidade. No entanto, tenho algumas noções sobre como utilizar a nossa descendência sem provocar danos gravosos a quem nos rodeia. Por uma questão prática vou arrumar a coisa de acordo com aquelas que considero as quatro idades das crianças.

Bébézice (até aos 2-3 anos) – Meus amigos e minhas amigas, este é um período propício a muita asneira e imbecilidade bem-intencionada. Esclareçamos as coisas: o interesse dos vossos conhecidos em álbuns com 500 fotos (ou vídeos domésticos, analógicos ou digitais) dos vossos rebentos nas mais variadas posições (deitados, ao colo, deitados, ao colo, deitados e ao colo) é inversamente proporcional ao vosso. Tirando os avós e um ou casal na mesma situação de pasmo pós-parto, muito poucos seres humanos estão vagamente seduzidos pela ideia de conhecer, em riqueza de detalhe, o primeiro arroto, a textura das fezes, a trajectória da urina, a frequência da baba, as circunstâncias do vómito, e outras pérolas do género, dos vossos filhos e filhas. Por isso, e eu sei do que falo porque já passei por isso, como torturador e como vítima, controlem-se se não querem ver as vossas velhas amizades em debandada.

Infância (3 a 12 anos) – Aqui o principal perigo passa pelo relacionamento com as pessoas que nos substituem a maior parte do tempo na criação dos nossos filhos, sejam as educadoras de infância, os(as) professores(as), os avós, uma ou outra tia mais desocupada ou uma vizinha solteirona e com grande amor para dar às criancinhas. Embora sejamos obrigados a usar os serviços dos infantários e das escolas, temos sempre a tendência para achar que faríamos melhor do que os profissionais pagos para o fazer. Às vezes temos razão, outras vezes não; o problema é que acabamos sempre por dar grandes lições sobre os nossos filhos a quem passa com eles mais tempo do que nós. Isto é bem mais grave no caso dos avós, usados e abusados conforme as conveniências, mas que estão sempre a ser repreendidos pelo excessivo mimo que dão aos(às) netos(as). Vamos lá a ver: se achamos que eles e elas nos criaram mal e estão a fazer mal às nossas criancinhas, então é altura de não recorremos ao seu tempo livre sempre que nos dá jeito ficar descansados em casa ou ir dar uma volta ao centro Comercial, ao Cinema, sem os fedelhos por perto.

Adolescência (13 a 25 anos) – Fase muito prolongada e bem mais longa do que a literatura convencional considera. Em alguns casos começa logo pelos 10-11 anos e em outros regressa em força na segunda metade dos 30 e nos 40 (é a chamada pré-andropausa). Mas, para simplificar, consideremos o período em que o(a) jovem entra normalmente no 7º unificado e vai até à entrada no mercado de trabalho e à obtenção de autonomia financeira, o que pode oscilar bastante. Aqui o essencial é manter a autoridade, permitindo liberdade. É como uma Democracia a sério: somos livres, mas existem regras a cumprir. E algumas dessas regras passam pelas normas de conduta no espaço público que devemos ensinar à nossa descendência. A ideia não é deixá-los fazer na rua tudo o que não podem fazer em casa, chateando todo o resto do pessoal. Por exemplo: não é grande ideia deixar o Tiaguinho ir com os amigos fazer uma barulheira para a porta dos vizinhos, enquanto nós ficamos refastelados no sofá a ver a SporTV; ou ignorar que a Débora anda a praticar o que vê nas novelas nas traseiras do prédio, à vista de toda a gente do bairro, ou ainda oferecer uma motoreta ao Diogo André para ele andar em contra-mão, a fazer tangentes aos peões e a empestar o ar com o berreiro da máquina. Ou ainda fingir que não se sabe que a Cátia Vanessa e o Joãozinho andam a fumar as suas ganzas no cantinho escuro do prédio de duas ruas lá à frente. No fundo, não deixem que eles(as) façam aos outros, o que não gostavam que vos fizessem. E não venham com o argumento esfarrapado de que “são jovens, está na idade”, porque isso é desculpa de mau educador.

Pós-adolescência (dos 25 anos em diante) – Se nesta altura ainda não souber o que fazer, ou ainda tiver que se ocupar muito com o que os(as) seus(uas) filhos(as) fazem no seu quotidiano, algo está errado na sua vida. Eles e elas já têm tamanho e idade para tomar conta de si (e de si, você mesmo) e não dar preocupações aos pais. É seu papel explicar-lhes isso, se necessário recorrendo a um desenho exemplificativo.

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