Agora faz uma retrospectiva do movimento comunista mundial.
Os Partidos Marxistas-Leninistas (1ª parte)
A ideia marxista da aliança dos operários e camponeses, criou a simbologia da foice e do martelo, que alguns partidos social-democratas utilizaram em finais do século XIX e princípios do século XX, e o PCP e o MRPP continuam a utilizar.
Isso é já por si só um erro, porque podemos dizer que os tempos eram outros quando Karl Marx escreveu O Capital, mas o que é verdade é que aquelas são duas classes completamente distante, a nível de valores sociológicos e morais.
Enquanto os operários são uma classe urbana que poderá ser naturalmente revolucionária, os camponeses são uma classe que é naturalmente anti-revolucionária.
Nos tempos feudais, os camponeses, além de trabalharem nas terras dos seus senhores, assim que podiam drenar pântanos cultivavam terrenos baldios, logos os parcelando e criando esse apego à terra, essa prisão de trabalho e labuta diária, trabalhado de sol a sol.
Assim que os camponeses pobres têm oportunidade, tornam-se eles próprios senhores da terra, considerando-a sua.
Os operários nada têm de seu, a não ser a sua força de trabalho e sabem que quer trabalhem muito ou pouco, quem no fundo ganha é sempre o patrão; são, por isso, mais receptivos às ideias revolucionárias, à criação de sindicatos e à luta por melhores condições de trabalho.
Desde a I Internacional, ficou bem explícita a diferença e antagonismo entre marxistas e bakhunianos, ou seja, entre social-democratas e anarquistas, começando aí uma separação das ideologias que não terminou ainda.
No princípio do século XX, Lenine, que estava exilado na Alemanha, mudou o nome de Partido Social-Democrata da Rússia para partido Comunista da Rússia, tentando criar com isso uma forma autónoma de Socialismo. Com a vitória dos Sovietes, implantou-se na Rússia um regime autoritário, tendo a “ditadura do proletariado” encoberto uma oligarquia que reinava em substituição do antigo Czar.
Staline forçou a tal união dos camponeses com os operários, matando muitos milhares de pequenos e médios camponeses, que não concordavam com a colectivização forçada da terra.
Staline acreditava que com um regime ditatorial a União Soviética poderia transformar-se numa grande potência económica e militar, fortemente armada.
Trotsky achava que a Revolução tinha de ser mundial, fomentando-se focos revolucionários em todos os países que tinham movimentos revolucionários organizados.
Staline, por seu lado, achava que primeiro tinham de implantar o “Comunismo” na União Soviética e apoiar , sim, os movimentos revolucionários, mas de cariz autoritário. Para isso, criou o Komintern e acabou por mandar matar Trotsky.
A Guerra Civil de Espanha é o maior exemplo dessa contradição, quando os Anarquistas e os Trotskistas são mandados liquidar pelos estalinistas, com o pretexto de traírem o movimento revolucionário, assim ajudando a contra-revolução, quando na realidade a concepção libertária desses grupos não se adequava às ideias autoritárias e ditatoriais dos estalinistas e esses grupos eram, no fundo, mais perigosos que os próprios fascistas, porque poderiam pôr em prática um tipo alternativo de Comunismo libertário que, em última instância, faria perigar todo o poder ditatorial na União Soviética. Como, depois, veio a acontecer com a tomada do poder por grupos pró-capitalistas e mafiosos que agora reinam na Rússia.
O “Comunismo” autoritário pode existir apenas quando não há termos de comparação com o muito mau, fictício ou real, e para a oligarquia dominante na União Soviética foi preferível entregar o poder a esses grupos capitalistas do que tentar um comunismo libertário, que, quem sabe, poderia inspirar todo o mundo.
A China, por outro lado, tem um problema de população, pois há que alimentar um bilião de pessoas e o seu pragmatismo fez aparecer a ideia original de “um país, dois sistemas”. Um sistema é o “Comunismo” ditatorial, criminalista e opressivo, mas que talvez seja a única slução para este super-povoado país; o outro sistema é um capitalismo selvagem e de massificação da produção, de produtos medíocres em imensa quantidade, desde as confecções à comida chinesa, que podem ser produzidas a preços irrisórios porque, como se sabe, as liberdades gerais e também a liberdade de associação em sindicatos estão completamente proibidas na China.
O que este capitalismo chinês produz, e em grandes quantidades, serve para inundar o mercado dos países capitalistas ocidentais e concorrer não pela qualidade mas pelo preço e quantidade.
Esta estratégia é já vencedora e em Portugal terá como consequ~encia a curto prazo o desaparecimento puro e simples das nossas indústrias de confecções, que em Alhos vedros, por exemplo, empregavam centenas de operários e operárias. Agora, no Vale do Ave, vai continuar esse encerramento de empresas porque não se pode competir com uma mão de obra que ganha um euro ou menos por dia !
(Continua...)
Manuel Pedro, 3 de Janeiro de 2005
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