Todos bradam contra a fuga ao fisco e a contabilidade criativa de algumas empresas e empresários que, mesmo sendo visivelmente afortunados pelos negócios, raramente pagam o que deveriam ao erário público.
Por tabela ou como consequência, o próprio Estado acaba por entrar na mesma dança.
Como não recolhe o que esperava ou precisa, o Estado vive em défice e, para efeitos de cosmética interna e exeterna, mascara-o com artifícios de maquilhagem mal aplicada.
Todos sabemos que as contas do Estado não são o que está no papel.
Todos sabemos que as contas das autarquias são meros exercícios formais.
Todos vivemos num mundo de fantasia contabilística em que se cruzam a desonestidade (a fuga ao fisco), a incompetência (a incapacidade de fiscalização) e a hipocrisia (os exercícios contabilísticos).
Só o peixinho miúdo, que trabalha por conta de outrém, que não tem meios de escapar ao controle dos seus rendimentos, que cada vez tem menos por onde deduzir despesas, é obrigado a ser honesto à força.
À moda da Idade Média, a arraia-miúda constitui os pés e as mãos da criatura que é a nossa sociedade. Outros ficam com a boca, o estômago, os olhos e os ouvidos. Alguns controlam o cérebro. Ninguém parece saber do paradeiro do coração.
Em época de eleições, para compôr o ramalhete, a arraia-miúda fica ainda com a cereja na base do bolo, pois é época de festa de ânus e alguém tem que dar o corpo ao manifesto.
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