sexta-feira, janeiro 21, 2005

A Estante I


«Hoje com o alastramento planetário do kitsch como género universal do gosto, era inevitável que a grosseria se acentuasse no nosso país arcaico, tão próximo do pós-modernismo.
O que é a grosseria ? Resulta do esforço e da impossibilidade de dar forma a um conteúdo visceral sem forma. Cavaco Silva, comendo um bolo a falar aos microfones. A um dito fino, alguém responde com uma obscenidade: longe de produzir um efeito rabelaisiano (em que o fundo se eleva, tal qual, a formas sublimes, ou a uma paródia do sublime), a grosseria destrói a finura e o requinte da ironia, emagando-a numa papa viscosa e repugnante.
(...) Tudo isto compõe um homem arrogante. O pior, na grosseria, não é a ruína da forma, mas a arrogância em julgar-se forma: violência característica do burgesso (...)»

José Gil, Portugal Hoje (Relógio d’Água, 2004, p. 106)

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