sábado, janeiro 15, 2005

Para pensar... sobre como pensamos

«Toda a tarefa mental, mesmo a mais simples, comporta com efeito aspectos implícitos, os a priori. (Os a priori aqui em causa não têm nada a ver com os "preconceitos" ou as "pré-noções"; representam mais os quadros ou formas do pensamento). O sujeito social não se apercebe destes a priori (...). Eles estão situados no horizonte da sua argumentação. Porque são banais, ele trata-os como partindo de si. Se isto é assim, é porque, na maior parte dos casos, eles jogam um papel ao mesmo tempo indispensável e inocente: eles não produzem efeitos secundários. Mas a sua presença pode assim, em alguns casos, perturbar as consequências que o sujeito tira de uma argumentação, que na sua parte explícita é inteiramente aceitável.
(...) Estes a priori deformam as conclusões que tiram da sua argumentação e engendram crenças duvidosas. Mas como ao mesmo tempo estas crenças são fundadas em teorias sólidas, temos razão para ficarmos fortemente convencidos.»

Raymond Boudon, L'idéologie ou l'origine des idées reçues, Paris, Fayard, 1992 (edição original de 1986), pp. II-IV.

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