sexta-feira, março 11, 2005

Mas mesmo assim, parece que gostam

Do Diário de Notícias:

«Rostos do comentário não mudam há 20 anos
Sociedade mudou nas últimas duas décadas, mas os comentadores ainda são os mesmos.

O espaço do comentário não se renovou desde os anos 80. À excepção de novidades pontuais, pode dizer-se que, ao longo das duas últimas décadas, não se refrescaram as vozes que diária ou semanalmente dissertam sobre questões que marcam a vida nacional.Uma conclusão surpreendente para Rita Figueiras, investigadora e autora do livro Os Comentadores e Os Media, que será hoje à tarde apresentado na Universidade Católica de Lisboa. "Independentemente dos jornais, encontramos sempre o mesmo tipo de comentadores. As mesmas pessoas vão--se prolongando. É um espaço muito fechado. Fiquei verdadeiramente surpreendida, porque foram duas décadas muito diferentes, com bastantes mudanças no sector dos media e de toda a sociedade", explica ao DN a docente da Faculdade de Ciências Humanas, que analisou seis jornais (Diário de Notícias, A Capital, Público, Expresso, Semanário e O Independente).»


Mas, apesar desta constatação que é óbvia, ou seja, que são sempre os mesmos a aparecer, apenas mudando de lugar, repetindo na maior parte dos casos o mesmo tipo de discurso, cada vez menos viçoso, ainda há quem (tanto a nível nacional como local) se incomode quando aparecem vozes diferentes e dissonantes do lamaçal em que se tornou a opinião publicada entre nós.
A essas almas penadas que só gostam dos que opinam como eles, de acordo com os seus cânones, fazia-lhes bem uma cura de leitura da imprensa do século XIX e início do século XX para verem o que era criticar a doer.
Agora, é só afagar-lhes os cristais, ficam logo muito aborrecidos(as) ou fingem que não é nada com eles(as), quando não tentam mesmo abafar os que mantêm a sua independência (veja-se o "caso Marcelo" que apenas é a ponta visível do iceberg).
Cinquenta anos de ditadura deixaram marcas, que um ano ou dois próximos de quase anarquia não conseguiram acabar. Tudo se normalizou durante os oitenta e entrou no marasmo há medida que os noventa se instalaram.
Mesmo nós, à nossa escala, já somos aconselhados, em privado, a moderarmo-nos.
Enfim, este mundo anda triste, anda cinzento, anda formatado.
Todos devemos encontrar o nosso lugarzinho e contentarmo-nos com ele, fazendo vénia a quem se acha no direito de ser figura pública, de querer assumir responsabilidades políticas, mas que não quer o ónus dessa situação que é o escrutínio por parte dos concidadãos.
Maus hábitos.

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