quarta-feira, março 16, 2005

Material Alheio - JPCoutinho

Confesso que não sou grande apreciador das prosas mais recentes de João Pereira Coutinho Jr, um daqueles pseudo-enfant terrible da direita que por cá temos, em especial da sua colaboração no Expresso. Mesmo sendo incomensuravelmente melhor que os "acidentais" que gravitaram em torno do CDS de Portas, nos últimos tempos pareceu tentado por uma pose de maior gravidade e respeitabilidade (já bordeja os 30), pelo que perdeu boa parte da graça.
No entanto, de quando em vez, na Maxmen onde escreve de forma mais ligeira, ou nos arquivos do seu blog pessoal, ainda se encontram bons pedaços de prosa, como este de que se extrai uma passagem sobre a "aristocrática arte da rudeza", feito a propósito de uma leitura de Paul Johnson e publicado no Independente de 7 de Fevereiro de 2003:

«De que nos fala Paul Johnson? Ah!, de que nos fala Paul Johnson... Da arte da rudeza. Da aristocrática arte da rudeza. Uma arte definitivamente perdida numa cultura plebeia e vulgar. Não confundam rudeza com ordinarice. A rudeza é tudo, excepto ordinarice. A rudeza é insolência. É brutalidade. Não, não é brutalidade; é mais do que brutalidade: é malícia extrema, perversidade diabólica, sofisticação pura. Ao contrário do insulto reles, típico de selvagens e vagabundos, não é qualquer um que exerce a rudeza. A rudeza exige inteligência, elegância e um ethos aristocrático que uma sociedade radicalmente demótica não permite nem premeia.»

Para alguém que passou a maior parte da vida adulta a ser acusado de usar frequente rudeza no trato em muitas situações, o facto de esta característica ser considerada "aristocrática", deixa-me absolutamente deliciado.

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