Como os leitores do AVP já sabem– sou um heterossexual caucasiano, bordejando a meia idade, com interesse em materiais eróticos relativamente soft (o bondage doesn't give me the kicks... mas é porque sou caguinchas) – facto que o meu colega AV2 fez por divulgar, esquecendo-se de dizer quem me emprestou as primeiras Playboys brasileiras nos anos 70 - , com algumas das revistas actualmente em circulação por cá.
Confesso, sou assinante da Maxmen desde a campanha das 3 revistas por 1 euro, que guardo com a mesma atenção que dispenso à National Geographic ou mesmo à Visão.
Ora bem, ninguém é assinante deste tipo de revistas principalmente pelas letrinhas que lá estão, (mesmo se algumas matérias tenham o seu interesse), sendo atractivo superior o que lá vem em matéria de imagem, feminina, entenda-se, porque aquelas páginas dedicadas à moda masculina com modelos muito metrossexuais só servem para empatar e encher a coisa de publicidade encapotada.
Mas voltemos às imagens.
Pois é.
Cada número traz de duas a três meninas em poses vagamente libidinosas ou atrevidas, mais uma (normalmente) pequena entrevista e os seus chamados “dados vitais”, que incluem idade (dado muito importante nos dias que correm), medidas (dado sempre importante) e gostos (dado irrelevante para o efeito, pois dificilmente chegaremos ás falas com as moçoilas).
Neste número de Novembro, para além da menina da capa, temos lá para as páginas 80 e picos uma Joana Rodrigues, que demonstra alguns atributos para os 18 anos, mas não assim tantos que não acabasse por dar uma olhadela à entrevista, para tentar perceber quem era.
Claro que a prosa/diálogo não é propriamente um tratado de profundeza analítica sobre a vida, e lá vai correndo conforme o previsível, debitando a rapariga clichés ao ritmo de um por resposta desde achar “que a sensualidade é uma coisa natural de cada um” até um “o que há é mulheres espertas e outras inteligentes”, não esquecendo outros nacos suculentos de criatividade como querer em 2006 “ser feliz, estar bem comigo e com quem me rodeia” ou mesmo que ”nunca aceitaria meter-me num projecto sem pensar muito primeiro”, nunca esquecendo que “já me passou pela cabeça aprender a representar, porque é uma arte fascinante”.
Até aqui tudo bem, o mundo segue o seu curso, e a miúda lá dá de si o que pode dar e mais nada de interessante do que uma foto na banheira.
Chega-se ao fim da sessão fotográfica e lá temos as “estatísticas vitais” a proclamarem medidas na ordem dos 88-63-90 por 1,73 de altura, a que as fotos não fazem a devida justiça, seguindo-se o gosto pela açorda de marisco e, quando estamos quase a acabar a coisa, a declaração algo inesperada de, no leitor de cd’s, a rapariga ter Zero 7 e Sigur Rós.
E é aqui que todo o mundo roda em sentido contrário.
É que podem chamar-me preconceituoso, mas depois de tanta coisa básica e pedestre, aparecerem no leitor de cds da moçoila coisas como os planantes Zero 7 ou os islandeses Sigur Rós é como, depois de uma entrevista em que o Saramago, o Lobo Antunes, Carrilho ou o Prado Coelho tenham debitado mais pensamentos profundos e referências culturais do que as que cabem num disco rígido de 200 Gb, os rapazes afirmarem serem enormes fãs do Tony Carreira ou da Mónica Sintra (quer dizer, se calhar o Carrilho até...), ou mesmo de um Emanuel ou de uma Vanessa qualquer coisa.
Algo não bate certo e a perturbação invade-me a mente
Não sei como voltarei a encarar a Maxmen e as ninfas ou ninfetas mais ou menos voluptuosas que por lá aparecem.
É que a Carla Matadinho dizer que gosta de house comercial, tudo bem.
A Perlimpimpinha Jardim dizer que gosta de Hotel Costes (!) ainda se percebe que é maneirismo beto.
As irmãs Madrugas gostarem de chill out (sem especificar nada) também é prata da casa.
Mesmo a Andreia Dinis afirmar ser fã dos Pearl Jam e do Ben Harper não é coisa de cair o queixo.
Agora a jovem Joana ter Sigur Rós no leitor de cd’s só se compreende se o disco lá tiver ficado por engano.
Qualquer dia aparece-me uma Tatiana qualquer coisa, cujo maior mérito é ter sido 3ª figurante dos Morangos com Açúcar e ter feito o 9º ano já maior de idade a dizer que é a maior admiradora dos Portishead ou mesmo dos Tindersticks.
É que não bate a bota com a perdigota.
E isso perturba-me mais do que imaginar todo o silicone espalhado pelo corpo da Pamela Anderson ou mesmo o colagénio necessário para uma mulher normal ter uma boca (umas “bêças” para ser mais exacto) como a Angelina Jolie.
Mas isso sou eu que tenho claramente uma mente errante e desocupada.
AV1
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