quarta-feira, outubro 26, 2005

Outra pérola...

O apoiante de 1ª linha de Mário Soares, António Cluny, dirigente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público fez ontem declarações muitíssimo interessantes, que também um dirigente sindical dos juízes corroborou:
Diz o dito magistrado, pessoa de trato simples e nada pretensioso, que

"Os magistrados queixam-se das condições materiais, isto é, das alterações aos estatutos sócio-profissionais que podem colocar em causa a independência da magistratura" (Público)

Na versão áudio que ouvi na TSF, mas que parece haver o decoro de ninguém reproduzir por completo, pelo menos nas versões online, Cluny avançaria destemido lamentando-se de os magistrados serem obrigados a comprar do seu bolso livros para se actualizarem e computadores para trabalharem em casa.
Não é que o homem não tenha razão e que não seja possível que «um estatuto sócio-profissional muito baixo "pode dar origem a fenómenos de corrupção"».
Só que eu salientaria dois pontitos insignificantes:

a) A corrupção é motivada, em primeira instância, por questões de (falta) de carácter e só acessoriamente por privações materiais. Se fosse a pobreza a motivadora única de corrupção - no mundo judicial e não só - não se compreenderiam fenómenos de corrupção "de topo" na classe política, empresarial ou mesmo judicial. Para além de que esta visão recua às noções oitocentistas das "classes perigosas" em que pobreza e crime se confundiam.

b) Eu na minha actividade, que depende igualmente de muito material auxiliar para actualização e trabalho, também sou obrigado a comprá-lo, o que é comum no caso de qualquer profissão minimamente qualificada, da engenharia à medicina, da advocacia à docência. Será que os senhores magistrados só se sentem "independentes" com um portátilzinho grátis em frente e uma resma de livros oferecidos. É esse o seu preço e da sua competência e independência ? Não admira que a Justiça ande pelas ruas da amargura...


Já sei que não devemos ser invejosos, nem nivelar a sociedade por baixo, e até admito que os juízes (como os médicos) devem ter as condições indispensáveis ao exercício das suas funções com a devida competência. Agora avançar logo daí para a possibilidade de corrupção por carências materiais, não deixa de ser uma admissão pública algo apressada quanto à integridade de parte da classe profissional que aparece a representar.

AV1

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