quarta-feira, janeiro 25, 2006

Revista Maria - II




Para grande surpresa do meu colega co-editor e eventual desagrado da elite instruída que nos visita (?!), sou um grande admirador da publicação mencionada em epígrafe e considero mesmo que o seu Consultório Íntimo devia ser elevado a espaço de impensa de utilidade pública ou mesmo a PIN - Projecto de Interesse Nacional.
Eu explico, meus caros e minhas caras, não é preciso começarem a apedrejar-me, que eu ando doentinho, tadinho do eu.

É assim.
Quando leio o Consultório da Maria - e faço-o desde o início dos anos 80, quando ia para Lisboa no belo barco da CP - sinto que este país está cheio de gente ainda mais anormal do que eu, psicológica e fisicamente (é que mesmo que sejam inventadas, certas coisas são sinal evidente de distúrbio mental).
É que é cá uma colecção de taras e manias que não lembra ao diabrete e uma sucessão de aberrações físicas que nem num circo do século XIX se encontraria.
A parte do serviço público é que quem é responsável pelas respostas tem sempre um aconchego, um conforto, uma palavra amiga, para cada anormalidade que lhe surge pela frente.
Nasceu com um pénis verde de 40 cm acoplado ao nariz ?
Não há problema, vá para o Afeganistão, use uma burka e diga que é uma das virgens que estará no Paraíso à espera de um homem-bomba gay.
Tem 4 seios, um dos quais no meio das costas ?
Olha que bom, se tiver quadrigémeos o jeito que vai dar.
Do ânus sai-lhe um tufo de pelos encaracolados que é extremamente desagradável à vista e o incomoda ao sentar-se, de tanta que é a comichão ?
Que coisa boa, pode ir cortando os ditos e fazer o entremeio de uma almofada.
Tem uma vagina dentada que está a cariar ?
Olhe que há um Pepsodent que faz maravilhas com o tártaro.

E por aí adiante.
O rol de situações perfeitamente credíveis e comuns no nosso quotidiano é infindável. Os exemplos que dei, por exemplo, são retirados da minha experiência pessoal e só não recorri ao Consultório, porque já estou no espírito da coisa.

Esta semana, por exemplo, temos uma variedade de dilemas que eu poderia qualificar mesmo de prementes e candentes.
Ora vejamos:
Um tipo que perde a erecção em pleno acto (acontece, acontece, mesmo nas melhores famílias, quanto mais em Ermesinde).
Uma rapariga que se assustou com os testículos disformes do namorado (também acontece, mas o susto não costuma ser com isso, mas pronto, ela lá sabe em que posição se meteu para dar com tal visão).
Uma jovem tem os mamilos invertidos (os mamilos também têm direito a viver a sua sexualidade, já lá diz alguém do Bloco de Esquerda).
Uma jovem receia ser tarada sexual porque sente palpitações na vagina (olha alguém que podia aparecer um destes dias aqui na redacção...).
Uma senhora que diz não lubrificar (é o que faz estas modernices das genitalias multiválvulas, quando encrencam é uma chatice e as peças de origem são muito caras).
Uma outra senhora interroga-se se será lésbica porque tem sonhos eróticos com outras mulheres (não ! lesbianismo, isso ? de qualquer modo, concretize, filme o evento e mande-nos que nós depois dizemos o que achamos).
Um rapaz conscencioso e ansioso por desempenhar uma penetração anal, receia magoar a parceira (o que é uma dúvida que não se coloca a quem tenha visto O Último Tango e tenha uma embalagem de Planta fora do frigorífico...).
Outro pergunta até que idade o pénis cresce (se fosse a ele, perguntava era até onde cresce).
Mais um outro está preocupado porque tem erecção e prazer, mas não ejacula (olha que problema !!! é uma poupança e tanto em preservativos e evita uma vasectomia).
Ainda mais outro diz que sente um nódulo no pénis e que por isso perdeu o apetite sexual (é para aprender a não se masturbar com mão cheia de berlindes...).
E, enfim, mais um tipo queixa-se que os pijamas da mulher lhe reduzem a líbido (o que é natural, pois a ideia é fazer algo SEM o pijama, mas enfim, não lhe contaram bem a história dos passarinhos e das abelhinhas...).
Ah, e há um que receia não conseguir excitar a sua companheira (o que nem vale a pena comentar, mas apenas dar-lhe uma senha para se colocar numa grande fila de colegas de situação, caso contrário não haveria tanto adultério e corninhos à solta por aí...).

A tudo isto responde paciente e construtivamente a drª Elisabete Sequeira.
Em dia em que Jorge Sampaio despachou 21 medalhas para empresários portugueses "de sucesso" (há assim tantos ? e ainda não medalhados pelo Soares que fazia distribuições às mãos-cheias...), esta rapariga, senhora doutora médica merecia a Ordem de Santiago ou a de Torre e Espada ou lá o que oferecem a quem tem paciência de santa e imaginação para consolar toda esta gente.

E tenho dito.

AV1

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