sábado, janeiro 08, 2005

E no princípio era a Bosta... I

Inicia-se hoje a erudita crónica do excelentíssimo doutor, monsenhor, Flamenco de Sevilhana e Saladeira.
Leiamo-lo e deixemo-nos penetrar pela argúcia do seu pensamento e pela perspicácia do seu labor.

O Génesis, o Éden e outras questões primevas

Ao contrário do que tem sido convencionalmente transmitido, de gerações em gerações, numerosos episódios dos Antigo e Novo Testamento tem sido relatado de forma apócrifa. Os textos que têm sido aceites não relatam a verdade dos factos, verdade que tem sido desconhecida do grande público.
Os elementos que agora divulgarei, resultado de anos de esforço e pesquisa incansável, foram resgatados dos fundos lamacentos da ribeira da Moita, esse húmus primordial, na forma de um manuscrito que prova ter sido na Moita, dita do Ribatejo para se distinguir das suas abundantes réplicas, que ocorreu o Génesis. Isto se prova facilmente, entre outros detalhes, pela escrita deste precioso documento numa linguagem que se percebe ser o moiteiro ancestral, inequivocamente identificável pela utilização de expressões como «treuze», «Igreija», «carangueijo» e “aquelas gaijas são munta bouas».
O Éden, esse primevo Paraíso Terrestre, localizou-se exactamente no espaço delimitado pelo início da Avenida e a zona envolvente à chamada Caldeira, inscrevendo-se o seu centro no mesmo ponto onde milénios depois se ergueram os nobres Paços do Concelho da nossa terra. Assim se prova – e isto é um mero àparte, um desvio ao sabor da pena, que apela aos eventos da actualidade para os inter-relacionar com o passado numa interacção cósmica – a sabedoria subjacente à decisão de investir na requalificação deste terreno com origens sagradas.
Mas, paremos com as divagações, por muito a propósito que nos surjam.
Discorria eu sobre as corcunstãncias da Criação do Mundo, a qual ocorreu efectivamente em seis dias, mas de uma forma diferente da que foi aceite até este momento.
O primeiro dia foi para a criação do Dia e da Noite, o segundo para a divisão das águas, seguida da criação dos Céus e o terceiro para a separação entre a porção seca e a porção húmida da superfície da terra mas, a partir do quarto, Deus dedicou-se a modelar e criar as criaturas viventes, começando pelas espécies humana e bovina, as quais são aquelas que foram feitas verdadeiramente à imagem e semelhança d’Ele. Creio mesmo que de acordo com uma exegése mais rigorosa dos escritos agora encontrados, se pode afirmar que Adão e Eva não foram um homem e uma mulher, mas um homem e uma vaca (outros colegas, que leram o texto, arriscam dizer que terão sido um boi e uma mulher, mas este é um ponto ainda em aberto).
Isto demorou dois bons dias (o 4º e o 5º) e no sexto dia Deus despachou todo o resto da criação da Natureza, guardando o sétimo para o descanso, ou seja, para a celebração da primeira tourada na Moita.
A evolução seguinte da espécie humana será tratada em crónicas posteriores, mas não gostaria de terminar sem esclarecer que a criação comum das espécies humana e bovina se manteve na memória de diversos povos antigos, com destaque para os egípcios que veneravam o boi Ápis, divindade semi-humana, semi-bovina, simbolizadora da fertilidade e potência sexual.
Cenas das próximas crónicas:
· A travessia do Mar Vermelho como a primeira grande largada da História humana.
· A vida de Cristo como uma luta sem tréguas pela dignificação das touradas de morte contra o hábito bárbaro dos Romanos usarem animais da selva nos seus espectáculos públicos e pela adoração ao boi como único animal sagrado em oposição ao panteísmo politeísta que até então predominava.
Flamenco de Sevilhana e Saladeira,
Mestre em Teologia Comparada,
Anno Domini de 2005

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