sábado, janeiro 08, 2005
Morreu Will Eisner...
Morreu Will Eisner, o mestre (1917-2005)
O maior criador dos quadrinhos de todos os tempos faleceu no dia 3 de janeiro, mas deixa como legado uma série de obras fantásticas, capazes de conquistar várias gerações de leitores
Por Sidney Gusman e Sérgio Codespoti
As histórias em quadrinhos nunca mais serão as mesmas, pois perderam o seu maior criador. William Erwin Eisner, ou simplesmente Will Eisner, como milhões de leitores aprenderam a admirá-lo pelo mundo afora, faleceu, aos 87 anos, no dia 3 de janeiro, no Centro Médico da Flórida, em Lauderdale Lakes. em virtude de complicações após uma cirurgia, feita no dia 22 de dezembro, para colocar quatro pontes de safena (quádruplo bypass).
O autor ainda trabalhava ativamente, e havia terminado recentemente seu último álbum, The Plot, que será lançado em breve pela editora W. W. Norton. No Brasil, a obra deve sair ainda em 2005, pela Companhia das Letras.
Eisner escreveu The Plot, com a ajuda de N. C. Christopher Couch e Benjamin Herzberg, para refutar o mito que cerca The Protocols of the Elders of Zion (Os Protocolos dos Sábios do Sião), um trabalho ficcional, criado por autores russos anti-semitas, que recentemente teve um surto de interesse e se espalhou pela internet. Nele, os escritores descrevem um plano judeu para dominação do mundo.
Nascido em 6 de março de 1917, no bairro nova-iorquino do Brooklyn, Will Eisner era filho de imigrantes judeus. A experiência de vida, em Nova York, foi fonte de inspiração para grande parte de sua obra.
Seu interesse por arte surgiu durante o ginásio, e foi no jornal da escola de Witt Clinton, localizada no bairro do Bronx, que publicou seus primeiros trabalhos.
Sua estreia numa revista em quadrinhos ocorreu em 1936, em WOW What a Magazine!, que durou apenas quatro edições, e para a qual Eisner criou duas séries: Harry Karry e The Flame (que posteriormente se transformaria em Hawks of the Seas).
Com o término da WOW, o autor se reuniu com Jerry Iger (falecido em 1990 e cujo nome real era Samuel Maxwell Iger), o editor da revista, e juntos criaram o S. M. Iger Studios, em 1937, que depois ficou conhecido como Eisner-Iger Studio.
A obra mais famosa de Eisner neste período foi Hawks of the Seas, embora também tenha trabalhado com Sheena, a Rainha das Selvas, personagem criada por Iger, cuja primeira publicação aconteceu no tablóide inglês Wags. Só depois ela saiu nos Estados Unidos, pela Fiction House.
Em Sheena, Eisner assinava com o pseudônimo W. Morgan Thomas. Nessa época, alias, ele usou outros, como Willis Rensie (seu sobrenome lido de trás para frente) e Spencer Steel.
No mês de maio de 1939, aconteceu um fato marcante em sua carreira. A pedido de Victor Fox, dono da Fox Features Syndicate, Eisner criou Wonderman, uma cópia descarada do Super-Homem. A estréia foi em Wonder Comics # 1. No entanto, a National Periodicals (hoje DC Comics) agiu rápido e processou a concorrente por plágio. O personagem nem apareceu na segunda edição.
Chamado a testemunhar no tribunal, Will Eisner depôs contra Victor Fox, que perdeu a causa. Em virtude disso, o empresário, como vingança, se recusou a pagar pelo serviço, o que significou, em 1940, um calote de três mil dólares. Esta história é narrada, com nomes fictícios, no ótimo álbum The Dreamer, inexplicavelmente ainda inédito por aqui.
Este livro gerou, inclusive, uma belíssima exposição durante o III Festival de Humor e Quadrinhos de Pernambuco, chamada Will Eisner - The Dreamer, que pode ser conferida virtualmente no site do evento.
No decorrer dos anos, passaram pelo estúdio de Eisner e Iger jovens que depois se tornariam lendas dos quadrinhos, como Jack Kirby, Bob Kane, Lou Fine e muitos outros.
Esta parceria se encerrou em 1939, quando Eisner decidiu trabalhar para a Quality Comics. Jerry Iger permaneceu com o estúdio até 1955.
Surge o Spirit
Na Quality, o autor deu vida ao minúsculo super-herói Doll Man e Black Hawk, uma série sobre aviadores, que ganhou uma minissérie em 1990, por Howard Chaykin, publicada no Brasil pela Abril com o título Falcão Negro.
Contudo, foi fazendo um encarte formato comics de 16 páginas, que era distribuído para no suplemento de quadrinho dos jornais, que Eisner "se achou". Nesse espaço, em 1940, surgiu seu personagem mais famoso, The Spirit. O protagonista era Denny Colt, um investigador de polícia que é dado como morto e se aproveita disso para combater o crime como um herói mascarado, de terno (que invariavelmente termina rasgado), chapéu, sem poderes, com muitas beldades "a fim" dele e que mora no cemitério de Central City.
Spirit fez tanto sucesso - chegou a atingir a marca de cinco milhões de leitores semanais -, que acabou emprestando seu nome ao suplemento. Curiosamente, o personagem só usava máscara devido a uma exigência dos empregadores de Eisner e, nas primeiras aventuras, chegou a ter um carro para combater o crime, que logo foi esquecido.
Mas o que diferenciava o combatente do crime de Central City eram as histórias, permeadas de "toques" geniais sobre os sentimentos humanos que Eisner dava ao leitor e, sem dúvida, os enquadramentos, a iluminação e a diagramação que o autor usava em cada página. Era cinema no papel. E dos bons!
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