segunda-feira, outubro 10, 2005

Desânimos

Mais de uma pessoa, entre conhecidos (de viva voz) e desconhecidos (via mail), me têm manifestado a sua aparente surpresa pelo resultado que se pode considerar histórico da CDU e pelo descalabro do PS.
Não vou dizer que já o tinha adivinhado.
Acreditei que a erosão do eleitorado da CDU iria ser compensada pela insatisfação para com o Governo, podendo a maioria absoluta no concelho manter-se ou perder-se conforme as circunstâncias.
Quanto ao PS, como qualquer frequentador assíduo do blog se terá apercebido, o problema era estar minado a partir de dentro e parte das pessoas "históricas" do partido (embora muitos deles associados a outras derrotas retumbantes do PS local) se terem dele afastado e, pior do que isso, activamente colaborarem na campanha contra a actual direcção.
Por seu lado, a direcção local do PS, em especial a sua líder, padeceu de um ou dois equívocos básicos que arruinaram uma campanha planeada à distância, mas que foi perdendo ímpeto com a passagem das semanas, ao ponto de chegar aos dias da campanha propriamente dita já em frangalhos de tão fustigada pelos franco-atiradores da CDU ou até por nós (apesar da nossa fama de " lacaios rosinhas").
Que erros foram esses ?

a) O seu currículo, demasiado colado ao aparelhismo partidário, mas sem qualquer ligação ao concelho. Os aparelhistas da CDU são locais na sua maior parte e estão cá enraizados. Andar a passear pelo Governo Civil, saltando pelas Câmaras que vão ficando com gestão PS dá a sensação de algum carreirismo e que a CMM seria o trampolim para outros voos. Para mim, foi sempre evidente que o PS não ganharia a CMM, só que esperava que a "determinação" apontada à candidata não a fizesse perder de vista o óbvio.
b) A absoluta incoerência entre o diagnóstico feito à gestão da CDU - despesista, endividada, preocupada em mostrar obra à pressa - e o nível de promessas do PS em tempos de crise e aperto de cinto.
c) Tal como Carrilho em Lisboa, à antecipação do arranque da campanha, faltou um rumo exacto nas críticas que eram feitas, facilmente acusadas de bota-abaixismo. Em vez de "ir a todas", o PS devia ter-se concentrado num ou dois temas-base e martelado aí. O atraso da reacção ao problema do PDM foi sintomático. A campanha do PS foi pensada em termos teóricos, custando a reagir à realidade quotidiana. E consultar o nosso blog não chega. Se chegasse éramos nós que nos candidatávamos.

Por isto e muito mais, a derrota do PS era previsível. Mas se tivessem conseguido tirar a maioria absoluta à CDU ainda era um mal menor.
Mas não.
E a candidata ainda por cima, no momento da derrota, decide ter mau perder, "não compreender o eleitorado" e disparar sobre o Bloco de Esquerda acusando-o de ter um mau programa e de só dizer mal (declarações ontem ao Setúbal na Rede que já linkámos previamente).
quanto a isto, só dois reparos:
1) O programa do Bloco podia não ser uma maravilha mas era mais honesto e exequível que o do PS, mais atraído pelo marketing das promessas gongóricas.
2) A malta do Bloco portou-se tão benzinho que até nós nos irritámos com eles várias vezes. Eles foram tão cordatos e politicamente correctos que, a certa altura, eu estava com vontade de puxar os bigodes ao Raminhos. Se alguém andou por aí a adizer mal - mas com razão - fomos nós e fizemos muito bem.

Desta forma, não há que ficar ninguém desanimado. Há que aprender com os erros (ir ver o nosso post sobre o Popper) e partir para outra.

AV1