domingo, outubro 16, 2005

Memórias Bedófilas - Especial Astérix













O lançamento do novo álbum do Astérix, com o agravamento da má qualidade do argumento (se é que isso ainda era possível), fez-me voltar a reler alguns dos do período áureo da série, nomeadamente os publicados entre finais dos anos 60 e a morte de Goscinny em 1977, quando estava em preparação o 24º álbum, Astérix entre os Belgas.
Mais do que qualquer outro herói cómico da escola franco-belga (incluindo os clássicos Tintin e Lucky Luke ou os mais particulares Cubitus, Achille Tallon ou o Gaston Lagaffe), o Astériz representou a minha descoberta de um humor que, apesar de assente em situações, temas e figuras recorrentes, tinha sempre espaço para novas camadas de criatividade e diversos níveis de leitura.
Por isso, foi sendo cada vez mais desanimador ler cada novo álbum da série, quando Uderzo decidiu que também sabia contar histórias com graça. Se as histórias que ele conta já são fraquitas, então ter graça é melhor nem pensar nisso.
O 25º álbum - O Grande Fosso - com a sua sátira ao Muro de Berlim ainda se aguentava em luta com os menos bons assinados por Goscinny. Os dois seguintes (A Odisseia e O Filho de Astérix) caíam definitivamente abaixo da fasquia mínima mas ainda se suportavam na esperança de melhores dias. Mas desde as 1001 horas que o declínio foi irreversível.
Não espanta que a expectativa em torno da saída do álbum por cá tenha sido furada, porque os novos não conhecem quase a série e muito menos as partes boas, enquanto os menos novos se lembram dessas partes e por isso é doloroso ver o estado a que chegou.
Mas sempre nos valem os 24 primeiros álbuns.
Desses, os meus favoritos são difíceis de escolher, mas eu ficaria pelos três que ilustram estye post.
Por ordem de publicação: Astérix e os Normandos sobre a importância da aprendizagem do medo, A Zaragata sobre como a perfídia e a intriga podem envenenar qualquer situação e O Domínio dos Deuses, muito adequadamente sobre a especulação imobiliária.
É que Goscinny conseguia inculcar nas suas histórias de humor aparentemente simples, uma sofisticação de tratamento que raros outros argumentistas alcançaram, que lhe permite estar sempre actual.
É só agarrar num dos álbuns referidos ou no Astérix Legionário (bom para o tema da multiculturalidade) ou mesmo no Astérix nos Jogos Olímpicos (sobre o doping) e perceberão do que escrevo.

AV1

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