Antigamente, nos tempos da chamada outra senhora, havia temas de que não se podia falar: comunistas, suicídios, sexo, droga, revolução, liberdade, tudo o que então era considerado transgressor, perigoso, ameaçador, para a moralidade comum, os bons costumes e os poderes instituídos. Mas pelo menos a Censura era assumida institucionalmente e destinava-se a expurgar o que se escrevia e publicava de todos os conteúdos que pudessem perturbar as boas consciências.
Agora, vivemos num mundo em que a Censura não é assumida, mas em que é exercida mediante pressões várias, ameaças difusas, bloqueios sem rosto. Por outro lado, existe o consenso de quem detém qualquer tipo de poder ou que se acha numa situação de privilégio (económico, político, cultural) de defender a normalidade e de indicar o caminho "bom" para o exercício da crítica. É a ditadura do politicamente correcto, em que a mudança das palavras funciona como se tivessem mudado as práticas.
Quando era puto, tinha colegas gordos, zarolhos, coxos, ciganos e até mais tarde apareceram pretos na vizinhança.
Agora já não existe nada disso: temos crianças obesas, com handicaps físicos e de minoria étnica ou negros, quando não são apenas africanos.
Não é que as práticas tenham mudado muito.
Continuam a sofrer as mesmas dificuldades e discriminações.
Mas pelo menos agora, as boas consciências (em especial de esquerda bem-pensante) cobrem isso com um manto de enevoado linguajar que serve como a penitência católica para remir os pecados do dia a dia.
E pensam que os males estão resolvidos.
Mas, por mim, mais valia mudarem as práticas xenófobas, misóginas ou apenas estúpidas.
As palavras, embora as nomeando, ainda não são as coisas.
E enquanto as coisas não mudarem, só as moscas é que mudam.
AV1
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