quinta-feira, dezembro 15, 2005

As Presidenciais dos Pequeninos

Salvo seja, claro, pois a conversa até foi interessante e, se esquecessemos a China, até passaria por cavaqueira de café de esquerda.
Mas a verdade é que até a SIC tratou com menor respeito este debate ao esparramar-lhe sobre a primeira parte com uma entrevista longa a Paulo pedroso sobre o seu envolvimento no caso da Casa Pia.
Vídeo a gravar e passagem à troca de galhardetes dos camaradas Jerónimo e Louçã.
Ora bem, deixando de lado quase toda a segunda parte em que ambos estiveram de acordo (da água ao aborto, da Nato a tudo o mais), a primeira parte teve algum siumo nas seguintes matérias:

1) Relação com a Europa: Louçã naquele estilo modernaço e cosmopolita de quem se sente bem em todo o lado, gosta naturalmente da Europa e afirma-se europeísta. Eu se me dissessem isto há um par de anos, ria-me da anedota, mas pelos vistos é verdade; não gosta da Europa neoliberal, mas gosta da Europa (entenda-se União Europeia). No fundo, é como Mário Soares, mas em magro. Mais apegado à nossa terra, Jerónimo não embandeira em arco com a Europa pois percebeu que aquela fase de comunismo branco da Europa dos 12 e até dos 15 (aquele modelo planificador não muito diverso dos planos quinquenais da URSS) passou e agora temos uma Europa tendencialmente neoliberal.

2) Valor da Liberdade: Louçã introduz o tema com a boca cheia, acusando implicitamente Jerónimo de ser favorável a regimes de partido único, com censura e limitação das liberdades individuais. pois... Diz o roto ao nu. Será que Louçã já se esqueceu do seu próprio passado e dos que o envolvem no Bloco, (ex-?)fãs da Albânia, da China e de outras coisas do género. Esquece-se ele que o anterior candidato presidencial do Bloco - e actual "ponte levadiça" para Soares - foi um adepto fervoroso da revolução cultural ? Isto da falta de memória é um problema quando se ainda não chegou aos 50 anos.

3) Relações com a China: já atrás ficou o aperitivo para este esdrúxulo tema de um debate presidencial. Quem e quando andou a namorar com o regime chinês é tema que daria para muito e que, por cá, não deixaria muita gente com as mãos limpas, desde os maoístas pum-pums aos actuais belmiros de sucesso que compram brinquedos e mantas por atacado a 1 cêntimo a grosa por aquelas paragens. Por isso, antes de se atirar barro à parede é melhor pensar duas vezes.

4) Tipo de ofensas dirigidas pelos apoiantes órgãos de comunicação social partidária aos adversários: à moda cá da terra, ninguém sabe de nada e todos discordam disso, embora nós saibamos com que mimos aqueles dois se tratarão em pensamento.

Para além disto, mais dois pomenores anómalos do debate, ambos da responsabilidade de Louçã; o primeiro, quando ele afirma - a propósito da dissolução do Parlamento pelo PR - que "o povo fala quando não há outra solução" (isto é ipsis verbis porque eu fui a correr apontar). Ora bem, meu amigo, é aqui que eu discordo frontalmente. O povo não deve falar como última solução, mas sim como a primeira e a fundamental. Talvez um lapso de coordenação pensamento/palavra, talvez não.......
O segundo, quando Louçã no seu depoimento final invoca como inspiradores os comunistas João Amaral e Lino de Carvalho.
Não é embirração com o camarada Francisco Anacleto, acreditem, mas a coisa foi de péssimo gosto.
Invocar os mortos, em especial os que se mantiveram na trincheira do adversário até à morte, e apesar das injustiças de que tenham sido vítimas, é do pior gosto possível.
E eu sou insuspeito, porque quase todos acham por aí que eu sou anti-CDU.

AV1

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