segunda-feira, dezembro 05, 2005

A Democracia Mediática e os Debates

Vão começar hoje os debates a dois entre cinco dos candidatos a Presidente da República.
O de hoje na SIC promete ser um dos suculentos pois é entre Manuel Alegre e Cavaco Silva.
Lá mais para a noite ou amanhã se fará o balanço, mas desde já gostaria, na senda do que há bocado de falava no fórim da TSF, de deixar algumas perplexidades quanto aos mecanismos formais da nossa democracia mediática.
Neste momento só Jerónimo de Sousa é candidato, pois só ele entregou as assinaturas indispensáveis para o efeito.
Portanto, todos os outros são apenas pré-candidatos.
Não nego a relevância maior de uns sobre outros.
É verdade que alguns estão por ânsia de protagonismo (José Maria Martins), por puro gozo (Manuel João Vieira) ou pela defesa de micro-causas (vários casos, incluindo Carmelinda Pereira defensora de si e dos outros 27 miltantes do POUS) e o seu peso eleitoral é/será irrelevante.
Mas entre esses, ou melhor, mesmo esses devem ser respeitados na pré-campanha, enquanto não há formalmente um leque definido de candidatos.
A comunicação social decidiu que só há cinco candidatos, os dos aparelhos partidários do sistema e, vá lá, o Manuel Alegre.
Fizeram como nas nossas eleições locais, no caso do Setúbal na Rede, e ignoraram o candidato de um dos três partidos mais antigos do nosso espectro eleitoral, ou seja o advogado Garcia Pereira do PCTP/MRPP.
Entendamos duas ou três ou quatro coisas:
a) Não tenho especial simpatia pelo MRPP e não sou eleitor da agremiação.
b) Acredito que Garcia Pereira se for a votos se fique à volta de 1% dos mesmos.
Mas:
c) Neste momento ele é tão candidato como Cavaco Silva Mários Soares e Cia (tirando Jerónimo de Sousa).
d) Garcia Pereira é o candidato anunciado de um partido do nosso sistema eleitoral que, por regra, tem sido o mais votado dos extra-parlamentares.

Ora bem, e atendendo a isso, eu gostaria de afirmar, que tal como a exclusão de Leonel Coelho a nível local, considero inaceitável a exclusão de Garcia Pereira dos debates televisivos da pré-campanha. E considero inválidos os argumentos com rormulações do género:
1) Na pré-campanha prevalecem critérios jornalísticos, porque isso significa que a triagem dos candidatos efectivos é condicionada em grande medida pelos mecanismos mediáticos e pelas televisões, em particular.
2) Na pré-campanha não se aplicam as exigências constitucionais de equidade de tratamento, porque isso significa que a mediatização da pré-campanha se destina, dessa forma, a eliminar (qual sistema pré-eleitoral) os candidatos que considera menores e, para além disso, porque então ficamos sem perceber - se ainda só um apresentou os requisitos formais - porque se escolhem aqueles e não outros.
3) Porque são os que apresentam melhores resultados nas sondagens, porque isso choca com dois factos que são o desconhecimento de terem sido ou não considerados outros candidatos nas sondagens feitas e, principalmente, porque se seleccionam os 5+ e não apenas os 3+ que aparecem claramente distanciados nas consultas de opinião conhecidas.

Portanto, portuguesas e portugueses, isto apenas significa que as opiniões minoritárias são completamente esmagadas e lhes é retirado todo o espaço de manobra que possa levar - mesmo que isso não pareça credível - ao aparecimento ou desenvolvimento de movimentos de opinião alternativos, a menos que sejam apadrinhados pela Comunicação Social (caso do Bloco de Esquerda a partir de finais dos anos 90 e porque tem muitos amigos no interior dos órgãos de comunicação).
Claro que os candidatos beneficiados, em particular os mais próximos das posições de Garcia Pereira (Louçã, Jerónimo) nem mexem uma palha em defesa da pluralidade neste caso, pois esta é uma pluralidade que lhes convém.
Acaso as televisões reduzissem os debates aos 3+ e haveríamos de ver a gritaria contra a discriminação.
Claro que às televisões dava mais trabalho e eventualmente reduziria as audiências meter mais candidatos ao barulho. E percebo que as privadas, sem regulamentação que as obrigue, até têm tendência para fazer menos, mas a televisão pública entrar nestas jogatanas ?
Será que a discriminação deixa de o ser abaixo de 5% ou 3% do eleitorado ?
Será que será razoável exterminarmos um grupo social ou uma etnia se ela corresponder apenas a 1 ou 2% da população ?

Aparentemente, e pelo que vemos, á capaz de ser.

AV1 (à procura do significado de pluralidade no dicionário político)

3 comentários:

Mário da Silva disse...

A comunicação social decidiu que só há cinco candidatos, os dos aparelhos partidários do sistema e, vá lá, o Manuel Alegre

O Manuel Alegre também tem umgrande partido por detrás que se chama PS. É preciso não minorar que o mesmo Alegre foi recentemente candidato a Secretário-Geral do PS e que teve um apoio não ignorável.

Quanto ao resto 1005 de acordo. Mas isto é a Democracia que temos, e fede.

Até mais.

Mário da Silva disse...

Não é 1005 mas sim 100% :)

Mário da Silva disse...

"A comunicação social nos nossos dias reproduz como nunca a ideologia dominante. Seja na TV, na rádio ou nos jornais. Como negócio rege-se pelas leis do lucro. As audiências, ou as tiragens, com as consequentes receitas da publicidade, determinam, em última análise, os seus conteúdos essenciais."
Vilarigues, António, Público, em 5 de Dezembro de 2005