Ora bem, ora bem...
Acabou aquele que foi o debate decisivo para a 1ª volta das Presidenciais e aquele que ajudou - ou não - a definir quem pode ser o próximo Presidente.
Cavaco Silva está confortável no canto do Centro-Direita, com a certeza da passagem à segunda volta, qual Freitas há 20 anos.
Louçã e Jerónimo, como já repetidamente escrevi, limitam-se a arregimentar as suas hostes para as entregar ao candidato da Esquerda que eventualmente passe à 2ª volta, esperando ambos que seja Soares, sob cuja asa patriarcal se albergam confortavelmente.
Restam, pois, Manuel Alegre e Mário Soares para discutir o que está em discussão no dia 22 de Janeiro de 2006, ou seja quem chega em segundo lugar.
Há um par de meses, uma candidatura de Soares poderia parecer que teria esse lugar assegurado facilmente (e então nem o Bloco nem o PC andariam tão atarefados).
Agora isso está longe de ser claro, apesar de Alegre ter montado uma campanha em cima do joelho e graças à pura vontade dos seus apoiantes.
Mas no debate de hoje o que se viu foi, principalmente, a agitação de Soares perante o resvalar do terreno sob os seus pés, começando desde logo com fortes ataques pessoais ao oponente do dia, como ninguém até agora fez em nenhum dos debates anteriores.
No fundo, a posição de Soares é a seguinte:
a) Já lá estive, eu sei melhor do que ninguém e por isso eu é que devo ser eleito, portanto chegue-se para lá quem me queira afrontar.
b) Quem foge aos esquemas congeminados pelos Partidos não é bom pai ou avô de família, por isso vai de atacar as capacidades de Manuel Alegre, a um nível que nem Louçã nem Jerónimo fizeram a Cavaco.
c) Oscilar entre salientar o que ele está em condições de fazer para salvar o país (quando era o primeiro a responder a uma questão) e dizer que os poderes do presidente são escassos e que o seu uso deve ser prudente (sempre que Manuel Alegre adiantava alguma posição em primeiro lugar).
Tudo isto está muito certo do ponto de vista táctico, até porque Alegre continua algo inadaptado ao ritmo televisivo (embora com melhorias graduais), mas o conjunto soa-nos mal, soa-nos a alguém que quer à força manter-se na ribalta nacional, já que internacionalmente foi subalternizado nas suas aspirações. Em alguns momentos, faz lembrar um Alberto João Jardim sempre pronto a bater recordes de permanência no poder da Madeira, porque no Continente não teve sucesso.
Por isso, e achando-se que Soares foi o grande especialista político de debates televisivos, o desempenho de hoje não foi dos melhores, não faltando o remoque quanto à qualidade dos relógios que contavam o tempo e as auto-referências não aos actos mas à escrita.
Porque, e esse é o handicap de Alegre porque esteve muitas vezes ao lado dele, muitos dos actos de Soares no passado foram dúbios, quer como Primeiro-Ministro aliado a tudo e a todos à sua direita (em 78 ao CDS, depois ao PSD no Bloco Central), quer como Presidente da República, calculista no primeiro mandato à cata da recandidatura e só "corajoso" no segundo, quando sabia que não iria a votos.
O grande homem de Esquerda só saiu do sarcófago quando os anos 90 iam bem lançados.
Por isso, e por toda a teia que andou a tecer junto das cúpulas dos partidos da Esquerda para assegurar a sua vassalagem, acho que a candidatura de Soares é a preversão do espírito republicano do nosso regime.
É um passo atrás na sua revitalização e um mero capricho de uma segunda meninice.
Como diz "com um sorriso maligno" a alcoviteira ao velho de 90 anos que quer uma noite de amor com uma jovem virgem, quase a abrir o último romance de García Márquez: "A moral também é uma questão de tempo... tu verás".
AV1
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2 comentários:
Até posso nem vir a votar no vosso candidato de eleição, mas nesse ancião o meu comentário está aqui.
Até mais.
Nós sabemos que o amigo tenderá a tocar uns instrumento de cordas.
:))
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