Existe nas Ciências Sociais uma teoria, descendente de algum modo do marxismo, que afirma que as nossas visões do mundo, da sociedade e de tudo o mais, nunca se conseguem libertar completamente da nossa posição relativa nesse mesmo mundo e sociedade.
É a chamada standpoint theory que não tem tradução válida entre nós e que num dos seus desenvolvimentos teóricos, afirma que as posições dos actores sociais se encontram divididas de forma irremediável entre aqueles que dominam e os que são dominados, sendo que os primeiros pretendem manter os equilíbrios existentes que permitem a manutenção dos seus estatutos de privilégio, enquanto os segundos procuram combater esse equilíbrio com vista a alcançat uma situação de maior equidade e justiça (quem quiser alguma informação pode ler este resumo útil, este post do The Debate Link, este pequeno texto, esta entrada para um ensaio sobre o tema ou o muito resumido artigo da Wikipedia).
Também se afirma, e aí de uma forma um pouco mais utilitária e interessada, que a posição crítica dos grupos dominados é mais objectiva e válida do que a dos dominadores.
Obviamente, esta é uma teoria cara aos grupos sociais minoritários, das feministas às minorias étnicas, passando por defensores de modos de vida (social, sexual) alternativas à maioria e por correntes neo-marxistas anti-globalização e não só.
Vem isto a propósito do facto de aqui no AVP, e eu em particular, não me conseguir nunca libertar por completo das minhas origens familiares proletárias e sempre algo periféricas em relação aos centros por onde passei (poupo-vos a pormenores, mas já disso falei há muito tempo por aqui), o que me obrigou sempre a ajustamentos mais ou menos complicados e à necessidade de superar alguns obstáculos que a outros não se colocavam.
Talvez por isso tenha mantido um espírito de contradição, agora conhecido por contraditório, muito afiado e sempre o tenha manifestado mesmo quando isso não era conveniente, nem às boas consciências com quem fui contactando, nem a mim próprio em termos de popularidade.
Por isso, o nascimento, desenvolvimento e maturação do AVP nunca passou por objectivos de popularidade porque sabemos que os pontos de vista que defendemos não são populistas nem agradáveis à maioria.
São apenas os nossos.
Por isso, colarem-nos rótulos sempre foi algo meio descabido ou, pelo menos, sempre erraram o alvo por uma grande distância.
Talvez porque quem nos quis rotular está do outro lado, do lado dos dominadores que pretendem a estabilidade, o equilíbrio, a paz podre do pântano que mais vale estar imóvel do que a fazer ondas, porque as ondas podem espalhar a lama e libertar os aromas fétidos dos consensos artificiais, criticados às escondidas.
Não é essa a nossa posição.
Nós estamos do lado minoritário, dos que não têm mais nenhum poder do que o da nossa imaginação e o das nossas palavras.
Mais nada.
AV1
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