A propósito do meu destaque de um texto de opinião de Guilherme Valente no Expresso, o nosso leitor vtm do Barreiro Velho chamou-me a atenção para o excelente artigo inaugural de Miguel Sousa Tavares na página 2 do mesmo jornal com o qual passou a colaborar, vindo do Público.
O artigo é realmente muito bom.
Aliás, eu concordo quase sempre com o MST, desde que ele não escreve sobre futebol, tabaco e educação. A razão é simples, não dou do FCP, não sou fumador e tenho demasiados amigos na classe docente para dar crédito às boutades dele pró-Pinto da Costa, pró-tabagismo desenfreado e contra a dignidade profissional dos professores.
Mas quanto ao resto estou quase sempre de acordo.
O problema é que deixei de encontrar grande utilidade às críticas sistémicas à nossa vida política, social, cultural, económica e por aí abaixo.,
Se esse tipo de críticas gerais - ao estado da Justiça, da Educação, da Saúde, da Administração Pública - tivesse verdadeira eficácia, já as milhentas páginas escritas pelo próprio MST, pelo Pacheco Pereira, pelo Vasco Pulido Valente e por tantos outros arautos esclarecidos da nossa opinião publicada teriam conseguido mudar o país.
A verdade é que as críticas ao "sistema" (tipo Dias da Cunha), sem concretização e dedo espetado aos culpados individuais, não dão qualquer resultado.
Nos tempos que correm ou se aponta exactamente quem fez mal o quê, ou nada se consegue.
A Justiça está mal ? Advogados, juízes e conexos protestam pela voz dos seus órgãos corporativos e individualmente continuam a fazer o mesmo.
A Saúde rebenta pelas costuras e não há controle e qualidade nos serviços ? Ordens e sindicatos de médicos e enfermeiros afirmam-se vítimas de ofensa e no quotidiano o senhor doutor continua a trocar os turnos com os estagiários e a chegar à hora que lhe apetece, antes de correr para o consultório privado.
A máquina fiscal é ineficiente, lenta e eventualmente corrupta ? Lá vem a ladaínha das más condições de trabalho e debaixo dela todos se sentem livres para não melhorar o seu desempenho individual.
Os empresários são uns subsidiodependentes que fazem as empresas falir, enquanto eles vivem na boa ? Todos se afirmam injustiçados e dizem que o país é todo assim e nada lhes acontece.
Os exemplos podiam continuar, bastando citar o major Valentim Loureiro (velho manhoso desde os tempos da Guiné, em que desvio de bens passou a ser atitude de inconformismo com o regime, pelo que me contaram), que desculpa sempre a corrupção do futebol com a corrupção no resto da sociedade.
A verdade é que, quando confrontados com as suas insuficiências, a técnica de cada grupo social ou profissional é encobrir-se no meio da floresta, agachar-se e esperar que o vento passe.
Por isso, para mim o que já resta é o ataque ad hominem (ou ad feminam, se é assim que se escreve que para mim o latim é latim...), apontando o dedo (espetado ou em riste tanto se me dá) aos que notoriamente não cumprem com as suas obrigações ou que não respeitam as leis em vigor, seja por incompetência, má-fé, corrupção ou simples adesão à táctica da maioria.
Se houve coisa que ficámos a dever ao Independente e a Paulo Portas, apesar dos sobrolhos franzidos do pensamento politicamente correcto, foram alguns dos ataques feitos claramente a indivíduos que não cumpriram com a sua missão de servir bem o Estado. Podemos discutir a justeza de algumas campanhas justicialistas ou mesmo as suas motivações, para não falar da prática posterior do próprio P. Portas e da forma como muitas dessas figuras acabaram por se escapar às responsabilidades (Melancias, Belezas, Limas e outros anões cavaquistas).
Mas a boa verdade é que só fazendo destacar do rebanho, não as ovelhas tresmalhadas mas as que vão ficando gordas à custa da magreza forçada das outras, é que se consegue que a vergonha individual e o justo enxovalho público funcionem e tenham efeitos.
Caso contrário, é como caso de Entre-os-Rios, tudo vai remansando no lodo das conivências e silêncios encapotados. Os areeiros são gente de bem, os funcionários da fiscalização não tinham condições, o senhor juís não acha razão para seguir o processo e os mortos ficam mortos e os vivos em fraco repouso.
Criticam-nos alguns leitores e comentadores mais sensíveis e cordatos, que somos muitas vezes rudes e desnecessariamente duros com algumas figuras, em especial locais. O que é desconfortável e desagradável.
Não acho.
Aliás, só tenho pena de não ter suficiente protecção – como outros têm – para mais abertamente lhes espetar o dedo e gritar aos sete ventos o que muita gente vai sabendo e sussurrando por aí.
Porque sou maluco, mas não sou parvo.
E sei bem os riscos que se correm em meios pequenos como estes.
Mas continuo na minha.
Sem identificarmos exactamente quem corrói e faz apodrecer o sistema, não vale a pena dizer que o sistema está podre.
Sem identificar e cortar a origem do mal, ele continuará a alastrar.
AV1
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