segunda-feira, janeiro 23, 2006

Leituras locais das Presidenciais

Só a título de curiosidade, é interessante comparar os resultados das últimas autárquicas com as actuais Presidenciais, a vários níveis:

Na votação para a CM, a CDU atingiu quase 14000 votos, o PS ultrapassou os 7300, a aliança PSD/CDS teve 2560, o Bloco ficou um pouco abaixo dos 2500 e o MRPP teve 572. Isto com 50,55% de abstenções.
Para a Presidência, com uma abstenção inferior a 40%, portanto com mais eleitores a votarem, Jerónimo de Sousa passa os 10250 votos, Mário Soares passa os 3250, enquanto Alegre chega aos 8430 e Cavaco Silva passa os 8300. Louçã consegue 2763 e Garcia Pereira apenas 192.

Ou seja, embora os votantes tenham sido muito mais (mais uns 6000, assim à primeira vista e sem fazer contas), Jerónimo de Sousa tem quase 4000 votos a menos, tal como Soares. O que somado ainda é inferior à votação total de Alegre que foi buscar mais algumas centenas de eleitores. Como Louçã não perdeu votos e os perdidos de Garcia Pereira não chegam aos 300, isto quer dizer que, muito provavelmente muitos dos abstencionistas que agora apareceram foram maioritariamente para Cavaco e um pouco também para Alegre.

Significa ainda isto que se podem tirar algumas conclusões, de sentido quase oposto, e ainda por cima cientificamente indemonstráveis.
Uma delas é que o nosso pessoal autárquico é tão bom que tem desempenhos melhores do que o seu líder nacional. É uma leitura possível, mas como devem calcular acho-a insuficiente, pois se acreditam muito nessas pessoas, também acreditam na bondade da sua posição nas Presidenciais.
E isso não aconteceu ou então o que se pasou foi outra coisa, que se passa a explicar.
E essa outra explicação é que a mobilização e o envolvimento das estruturas partidárias locais (não só do PC, mas mesmo do PS) foi muito menor do que nas autárquicas, porque a questão não lhes tocava directamente nos interesses pessoais.
Nas autárquicas era o pão nosso de cada dia que estava em jogo e a disputa foi taco a taco e as relações de fidelidade foram evocadas boca a boca, porta a porta.
Nas Presidenciais, apesar de alguns desvarios retóricos contra o diabo Cavaco, todos sabiam que não era por aí que passava o essencial dos seus interesses e, tanto os militantes que andaram mais recolhidos, como os eleitores que se sentiram mais livres, permitiram o memorável resultado de Manuel Alegre (em Alhos Vedros Jerónimo de Sousa ganhou a Alegre por 28 votos, perdendo 800 dos eleitores CDU das autárquicas, enquanto Alegre ultrapassou em largas centenas os votos do PS).
Se tivermos em consideração os meios de campanha mobilizados pelas candidaturas de Jerónimo (que herdou grande parte dos espaços usados pela CMM e CDU em Outubro) e Alegre (que teve dois placards em todo o concelho postos por um par de pessoas), repara-se bem a desproporção entre meios e resultados.
E isso deveria fazer reflectir os analistas a la minute que no Jornal da Moita se espraiam em prosas pré-fabricadas e ditadas pela defesa de interesses próprios, mas desatentas em relação à realidade das coisas.

AV1

2 comentários:

nunocavaco disse...

Eu, analista a la minute, penso que a análise é um pouco redutora. Primeiro porque as eleições são diferentes, segundo porque os "media" nacionais influenciaram e muito os resultados do concelho e por último, porque o povo assim o decidiu. As eleições ditaram a vitória de Cavaco Silva. O nosso Presidente da República, que não é do meu agrado, foi eleito pelo povo e para isso muito contribuiu a divisão entre o P.S., que originou que muitas pessoas que habitualmente votam no centrão deslocassem o voto para Cavaco. Mas isto é só a minha opinião.

AV disse...

Você parece uma daquelas almofadas que a minha mãe tinha para colocar os alfinetes, pica-se por tudo e por nada.
Estava mais a pensar no MM (que só poisa ultimamente antes dos períodos eleitorais), porque o amigo Nuno até já é regular opinador nos últimos meses
Mas se o barrete se lhe enfia, pronto, que hei-de fazer.
Mas isso é a minha opinião redutora, claro.

Só mais uma achega, mas não são os seus camaradas que, a cada deslize eleitoral do partido do governo, apontam logo o dedo, sejam ou não eleições diferentes ?

E agora outra achega: pelo menos está mais feliz do que eu porque só Presidente não lhe agrada; a mim não me agrada o Mpresidente, o Primeiro-Ministro, o Presidente da Câmara, o vereador que não posso nomear, o desempenho das oposições nacionais e locais.

Mas isso sou eu que nem a mim mesmo agrado, claro.

:DD

AV1 (é melhor vermos a FHM para nos animarmos, mesmo se pouquito, como explico lá mais acima)