Em Portugal, dizem os entendidos, para conquistar o poder é preciso conquistar o "Centro" político, essa entidade mítica que fica para lá da Taprobana, mesmo antes do país da Cocanha.
Ninguém sabe bem o que é o centro, tirando o facto de ser formada por pessoas que mudam com alguma frequência de opinião entre os partiudos do Bloco Central, não tendo qualquer matris ideológica ou convicções muito firmes, tirando um pragmatismo mal medido.
Diz-se que Cavaco ficou a dever as suas maiorias a esse pessoal, tal como Guterres com a sua quase maioria e agora Sócrates com a absoluta de que desfruta.
Esta análise é normalmente desenvolvida por quem gosta de governos longe da verdadeira esquerda, e a quem os negócios correm bem tanto com um PS como com um PSD centristas, de preferência sem alianças a estragar os arranjinhos.
Quem vota nessas soluções são normalmente aquelas pessoas que, depois de darem maiorias impensadas, depois aparecem no jornal a pedirem desculpa pelo acto.
Não os admiro por isso, pois não foram enganados, apenas se enganaram.
Devido a tudo isto, o Centro assumiu contornos míticos na nossa análise política, mas ninguém o sabe definir ou medir muito bem.
Diz-se que o "povo de esquerda" é maioritário e atingirá os 60% num dia bom.
Mas também é verdade que o centro-direita chegou aos 55% de votos em 1987 e 1991, somando os votos do PSD e CDS.
Como não temos 115% de votantes há por aqui o efeito do tal Centro flutuante, que não sabe bem ao que vai, mesmo se pensa que vota em consciência no que acha melhor em cada momento.
Em eleições presidenciais, o Centro vota sempre em força com o vencedor desde a reeleição de Soares, tal como já o fizeram com Eanes. Mesmo com Sampaio (um socialista algo esquerdista), o Centro seguiu o rebanho. Só o confronto presidencial de 86 levou ao desaparecimento ou fractura do Centro em duas partes, forçando à tomada de posições, mais claras, mas depois isso nunca mais sucedeu.
Nestas eleições presidenciais, pela 1ª vez desde há 20 anos, se vai perceber exactamente até onde consegue chegar a Esquerda perante um centro-direita não desgastado pelo exercício do poder.
A soma de votos de Garcia Pereira, Loução, Jerónimo e Alegre dar-nos-á o que vale eleitoralmente uma esquerda não complexada e assumidamente não centrista. Os votos de Soares dar-nos-ão o que vale um PS sem grande identidade própria e agarrado ao tal Centro.
Se Cavaco ganhar à primeira, é porque se confirma que ele consegue absorver o centro que nenhum líder da sua área política alguma vez conseguiu e demonstra que a Esquerda já não é sociologicamente maioritária e que Sócrates deve a sua maioria aos eleitores flutuantes que se situam no mesmo espaço de Cavaco.
Se Cavaco não ganhar à primeira, é porque essa maioria sociológica se pode reconstituir ou então porque o Centro mais não passa do que de um bando meio tresmalhado, sempre meio perdido, sem uma identidade suficientemente forte e que, mal sente o seu bem-estar em causa, migra logo para outros pastos. Ou seja, o mítico Centro não passará de uma base eleitoral demasiado volátil para alguém querer firmar nela qualquer poder que se pretenda estável e socialmente coerente.
AV1
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