quinta-feira, janeiro 05, 2006

Tácticas de curto prazo

Na TSF é dia de entrevista a Jerónimo de Sousa.
A entrevista está a correr bem.
Não sei se pessoalmente o homem é tão simpático como dizem.
Mas eu simpatizo com ele.
Acho que é o líder certo e coerente para o PCP que existe.
Só que nesta história das Presidenciais acho que o cálculo estratégico desenvolvido pela direcção comunista está claramente equivocada.
Porquê ?
Fundamentalmente, porque para não desagradar à direcção do PS e comprometer eventuais acordos, o PC decidiu avançar com a candidatura presidencial de Jerónimo de Sousa num rumo claramente hostil a Manuel Alegre e suavemente doce para com Mário Soares.
Não sei se é a estratégia certa, mas é certamente algo parecido com a atitude daqueles namorados repetidamente rejeitados pela rapariga dos seus sonhos, que preferem ignorar quem gosta deles, só para não colocar em causa a esperança de um futuro para a sua relação ideal, imaginária e impossível.
Trocando por miúdos.
No PS existem diversas facções e atitudes relativamente a eventuais alianças governativas em caso de extrema necessidade.

* Há os bloquistas encapotados, caso do grupo de Ferro Rodrigues, com quem Louçã andou na Escola ou na Faculdade ou o que foi, tendo-se notado as afinidades pessoais quando rebentou o problema da Casa Pia.

* Há os adeptos do Bloco Central, que são quase todos aqueles cinzentões que vivem sempre na sombra do Estado, com nomeações a preceito nas empresas públicas e conexas, não esquecendo as criatura como os Jaimes Gamas e outros que tais.

* Há os que são pragmáticos e navegam conforme as necessidades, como os Soares e os soaristas, mais uma pitada de Coelho e Vitorino, embora estes gostem mais de mãos livres.

* Há os que uma aliança com o PC não faz ficar logo em estado de epilepsia galopante; são poucos, sendo que Manuel Alegre é um deles.

Ora o PCP analisou e concluiu que, no provável cenário de uma maioria absoluta do PS com um Cavaco Presidente, deveria mostrar-se simpático com o PS de Sócrates, na tentativa de puxar a acção governativa para a Esquerda, agitando com o papão da Direita sob a protecção do Presidente.
Ou seja, o PC aposta que perante a "Direita"a Presidência, o Governo e o PS se sintam mais atraídos por alargar o seu apoio á Esquerda.
No fundo é algo não muito diverso do que se passa nos planos do Bloco.
É um quadro lógico, mas penso que será mal calculado, porque se baseia na crença de que este PS tem algum interesse em ligar-se ao PC.
Claro que apoiar Alegre representaria grandes riscos: diluição da identidade comunista, afrontação clara do PS e de Soares, quando se percebe que Alegre dificilmente chegará à liderança do PS, a menos que algo corra muito mal ao governo.
Mas teria sido uma atitude corajosa e, por paradoxal que pareça, não subserviente a estratégias alheias.
Sei que Jerónimo de Sousa decidiu apresentar a defesa da letra da Constituição como o seu lema, sublinhando as componentes sociais e económicas da Democracia.
Mas essa mensagem não chegará para o levar à segunda volta, se ela existir.
Em contrapartida, se o PC apoiasse mesmo que implicitamente Alegre, este ficaria certamente em segundo lugar e na hipótese da tal 2ª volta, tudo indica que conseguiria lutar mais eficazmente com Cavaco do que um Soares completamente em desespero, como se vê pelas últimas declarações, tipo teoria da cosnspiração à João Soares.
Assim, como estamos, ou levamos com o Cavaco ou levamos com o Cavaco.
Que, voltando ao meio da minha conversa, talvez seja aquilo em que o PC aposta para tentar puxar o PS um bocadinho para cá do centro em que está.

AV1

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