sábado, maio 27, 2006

Na rota da desgraça

Quer a Visão, quer o Expresso, trazem esta semana peças sobre a tragédia que percorre o caminho da costa da África subsariana até às Canárias, que são vistas como a porta de entrada de muitos emigrantes ilegais da Nigéria, do Senegal, do Mali, do Ghana, numa Europa que para eles tem um poder de atracção semelhnate ao que os EUA têm para mexicanos, cubanos e outros habitantes da América Central.
Muitos morrem a tentá-lo, como já ocorreu a caminho da América, de Miami, a partir do Haiti, de Cuba, até mesmo do Vietname ou no próprio Mediterrâneo entre a Albânia e a costa de Itália.
A questão que se coloca é que, mesmo sendo o capitalismo um sistema claramente imperfeito e injusto, é quem o representa, em conjunto com sistemas democráticos, que funciona como factor de atracção para os que pretendem uma nova vida.
Mesmo um anarquista potencial como eu o vê com naturalidade.
Não vejo hordas de gente a procurar emigrar para a Venezuela ou para Cuba, tirando os turistas que não se incomodam com as más condições que envolvem os hotéis de luxo ou quem vai em busca de sexo fácil e barato.
Porque as pessoas só emigram em condições precárias quando temem pela sua segurança ou quando querem ter uma vida melhor.
Sei disso o suficiente com a bela colecção de gente emigrante na minha família, em especial durante a década de 60, entre emigrados por razões políticas e emigrados por razões económicas, quando não o foi pelas duas.
Alemanha, França, EUA, Canadá,
Alguns regressaram logo em 75-76.
Outros foram ficando até aos anos 80.
Quando quase todos tinham voltado, uma nova geração começou a partir.
Mas procuram países como o Canadá, a Suíça, o Luxemburgo, de novo.
Quem emigra, fá-lo para onde espera encontrar melhores condições, de liberdade e/ou de prosperidade.
Por isso, Portugal fica num ponto de intermédio destes fluxos de gente em trânsito na busca da esperança.
Para africanos lusófonos, brasileiros, gente dos países de Leste, Portugal é melhor do que as suas terras de origem por alguma razão.
Em contrapartida, há portugueses que cá não encontram o suficiente para viverem como gostariam.
A emigração é causada pela pobreza e pela falta de liberdade.
Há quem confunda isso apenas com o capitalismo.
Não é bem assim.
Pois, como eu escrevi, apesar das grandes desigualdades neles existentes, os fluxos migratórios não se verificam dos países de capitalismo consolidado para os outros.
Nem isso nunca aconteceu.
Serei eu um empedernido defensor do capitalismo como sistema?
Nem por isso.
Apenas observo as coisas e vejo como são.
Devemos mudá-las?
Certamente que sim.

Como?
Em tese, só destruindo e construindo de novo.
Mas já vimos que isso deu mau resultado quando se aponta para construções incompatíveis com a diversidade da natureza humana.
Por isso, que tal irmos aperfeiçoando no que podemos, aquilo que nos rodeia?

AV1

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