segunda-feira, outubro 16, 2006

Léxico Analítico do Moiteiro Básico Encartado - Letra P

Peneiras - é um mistério como o moiteiro típico, apesar da ausência de qualidade notáveis ou apenas medianas, seja físicas ou intelectuais, consegue ser portador de tão grande quantidade de peneiras. O segredo é, fundamentalmente, orgulhar-se de tudo o que não é, assim como de todas as tristezas que o caracterizam. É por isso que, apesar das suas profundas limitações que desencorajariam qualquer pessoa com um mínimo de auto-crítica, o moiteiro anda todos os dias feliz e contente, impando da sua ignorância e desdizendo de todos os que ele acha não passarem de reles "eruditos". O moiteiro orgullha-se profundamente de ser grunho e é algo que transmite com estima e dedicação de geração em geração, desculpando sempre as alarvidades da sua descendência com as alarvidades que ele próprio cometeu nos seus tempos. Se algo o aflige é a descendência nem sempre estar ao nível da alarve boçalidade que ele próprio exibiu nos "bons velhos tempos". As peneiras do moiteiro são uma espécie de marca indelével, uma matriz genética inescapável da espécie, semelhante ao olhar vazio, ao entreabrir da boca perante algo que escapa (quase tudo...) à sua capacidade de processar informação, ao tique do chocalhar do chaveiro pendurado no cinto (reminiscência e inveja dos irmãos quadrúpedes), ao escarro rápido e generoso para o chão, à aparente permanente urticária que o aflige em zonas privadas, penso mesmo que semelhante à propensão para o descaimento testicular e a impotência ainda em idade que deveria ser viril. O moiteiro é peneirento porque isso é a única coisa que lhe resta. Sem peneiras, o moiteiro ficaria reduzido a encarar-se a si mesmo tal como é e isso seria motivo para uma firme migração sucidária como a dos lemmings do famoso vídeo-jogo que fez as nossas delícias há uns 15 anos. O que só não ocorre porque, sendo essa tendência contra a natureza humana geral que impele a espécie para a sobrevivência, as peneiras foram a compensação dada pela Natureza ou o Deus-Boi que tanto adoram para todas as restantes maleitas.

Augusto dos Santos Cabresto, psicólogo amador

Sem comentários: