quarta-feira, outubro 25, 2006

É para falar a sério, mesmo?

Então está bem.
Hoje vai a sessão de vereação - novamente - a questão do PDM.
Acredito que, na espiral de arrogância, autismo e défice democrático que caracterizam a postura da liderança da CMM quando se confronta com qualquer tipo de oposição coerente e articulada, a criatura seja aprovada com o peso da maioria.
Atenção que não escrevo com a "força da maioria", mas sim com o peso, que já é um "peso morto" um ano após as eleições.
Se a criatura tiver ordem de nascimento, nascerá tortinha, coitadinha, com vários problemas congénitos e sobreviverá a muito custo, num espectáculo deprimente para todos, excepto para os que esperam ganhar com a sua manutenção no estado que se adivinha.
Acredito que os "médicos" e "enfermeiros" que pensem ganhar bastante ao insuflar oxigénio nos pulmões do PDM-tadinho, não se oponham ao acto de caridade que seria interromper esta "gravidez", mesmo que já no final do prazo.
Este PDM se calhar nem nasceu torto, mas entortaram-no violentamente ali por inícios deste milénio.
Para perceber tudo era preciso mergulhar de cabeça na lama escondida durante os dois anteriores mandatos autárquicos.
Sou pessoa com hábitos mínimos de higiene, pelo que me abstenho de o fazer, apenas chegando sinalizar onde a lixeira nasceu e desde quando se foi acumulando, com consequências negativas para o interesse público e, a curto e médio prazo, para a qualidade de vida de muitos munícipes, mesmo para aqueles que assim não parecem pensar.
Um nível mínimo de decoro e uma cedência bem-vinda à clarividência teriam permitido que os enxertos deste projecto justificassem o recomeço do processo.
Só que isso parece insuportável aos senhores que mandam por várias razões: pela morosidade que o processo já leva, pelo que isso implicaria de admissão de erro e, o principal, pelos "compromissos assumidos" de que se fala.
Ora aqui é que o bichinho torce o rabo, resfolega e dá de cascos.
Porque esses "compromissos assumidos" em primeiro lugar, se aconteceram, não deviam ter acontecido.
Acontecendo, parece que condicionaram o que deveria ser um PDM em prol da população do concelho numa pluralidade de dimensões e não apenas na da suburbanização e das negociatas imobiliárias.
Mas sendo que isso é o pior, não deixa de ser absolutamente reprovável a forma como o poder político decidiu agir em defesa desta "criatura" disforme: não publicitando devidamente os documentos e limitando o seu acesso a ambientes controlados, não explicando devidamente os critérios "técnicos" que o fundamentam, não alargando a discussão pública sobre as opções assumidas e procurando restringir o direito á palavra dos potenciais intervenientes e, por mais de uma vez, não dando a cara à luta ou fugindo perante as adversidades.
Em todo este processo há dois ou três aspectos notáveis a nível político:
  • a) A ausência do vereador do Urbanismo e Ambiente de um papel activo, público e visível, em defesa deste projecto de PDM.
  • b) A incapacidade do Presidente da CMM para manter qualquer tipo de debate mais aceso e em que seja necessário demonstrar e fundamentar uma posição e não meramente expô-la sem contraditório.
  • c) A descarga do ónus da defesa do documento para uma segunda linha de "eleitos", por vezes híbridos de técnicos, sem "peso político" específico, sem conhecimentos aprofundados sobre a matéria e sem poder decisório no processo que justifique ouvi-los com vantagem, para além da mera cortesia.
Por isso, todo este processo é ínvio e, estando nós em terra maioritariamente de incrédulos, não me parece que a divindade suprema passe por aqui para, com os caminhos misteriosos, reconduzir tudo isto à normalidade.
Se o projecto de PDM for aprovado hoje "a martelo", com a força inerte e robotizada de uma maioria em que metade dos vereadores são verbos de encher nesta matéria, só nos resta a todos os que sentem que esta medida lesa o bem comum, ou mesmo os direitos individuais, agir em conformidade.
E depois, todos acabaremos por perder...
Só que alguns já anunciaram que depois do dilúvio se vão embora e não estarão cá para pagar as favas.

AV1 (e mais esta breve leitura)

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