terça-feira, janeiro 04, 2005
O horror às árvores II
Se excluirmos aqueles arbustos mal amanhados, que nem árvores são, ou aqueles espécimes que são largados em algumas vias, sem qualquer estudo da sua adequação a zonas residenciais (devido aos pólens) ou características do terreno (tipo de raízes e necessidades hídricas), vivemos num tempo e lugar que parece ter horror às árvores, em particular ás que constituem a cobertura vegetal tradicional da região.
Outrora, as árvores tinham funções económicas: árvores de fruto para a alimentação (marmeleiros, laranjeiras, limoeiros, macieiras, figueiras, nespereiras, etc) e árvores para obtenção de matérias-primas (pinheiros para lenha e resina, sobreiros para a cortiça, oliveira para a azeitona); mas também existiam as que tinham funções práticas: os eucaliptos para ajudar a secar terrenos pantanosos ou alagadiços, faias e plátanos (tal como as canas da índia) para ajudar a fixar terras junto a ribeiros ou zonas de escoamento de águas ou para ladear caminhos (criando zonas de sombra). Poucas tinham funções decorativas, como as palmeiras que vieram de África e da Ásia para embelezar algumas zonas centrais de convívio e que tiveram grande receptividade em zonas do litoral sul do país, devido à adequada natureza do clima.
Agora, tudo isso se esqueceu e vive-se a lei cega da ignorância. Corta-se o que está a atrapalhar, não preservando ou repomdo o que se destruiu. Para disfarçar, arranjam-se uns caniços minúsculos (porque são baratos) que quando conseguirem crescer, já será época de serem cortados; ou então, compram-se ao desbarato em viveiros palmeiras de jardim, em especial umas que sem tratamento adequado e regas sistemáticas, nunca chegam quase a crescer.
Atrás do desaparecimento das árvores e outra vegetação, vai-se o restinho de fauna que ainda existe: quase só répteis, insectos e pequenos pássaros, pois não há alimentação para nada maior. Os ecossistemas são destruídos de vez e não são jardins com meia dúzia de metros que servem para alguma coisa.
Mas, quando se licenciam urbanizações e se desenham redes viárias, a cobertura vegetal é a última preocupação, mesmo se os promotores alegam que os seus lotes estão em plena natureza e fazem cartazes publicitando a beleza do local. Claro que, para construir os prédios, a natureza tem que conformar-se a desaparecer pois, de acordo com as leis da física, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
E, também é claro, os estaleiros das obras têm que se fazer em algum lado e dá sempre jeito umas árvores para encostar o entulho todo. Nem por sombras pensar em, como se faz actualmente na Alemanha na construção dos novos estádios de futebol para o próximo Mundial de 2006, proteger o máximo de árvores, chegando mesmo a cobri-las para as defender de agressões da poluição ou evitando contaminar o solo de que se alimentam.
Para isso era preciso visão política e competência técnica.
O que por cá, obviamente, é cada vez mais raro.
Nessas matérias (visão, competência) já temos o deserto que os satélites nos dizem que vai ser a maior parte de Portugal em meados deste século.
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