terça-feira, outubro 11, 2005

Educação e Demagogia

Nos tempos do escândalo Monica Lewinsky, acusava-se o presidente Clinton de desviar as atenções mandando bombardear um qualquer acampamento de "terroristas" ou afins no Sudão, no Afeganistão ou fazer uns tiros ao alvo com aviões iraquianos.
Na maior parte das vezes até com a sua justificação.
Mas isso sempre foi visto como uma táctica de diversão do que corria mal no plano interno.

Por cá, como não temos nada que bombardear, nem Marinha ou Aviação que consiga mais do que invadir as Berlengas, se estiver bom tempo, sempre que o Governo se vê em maus lençóis vira-se para a Educação é "lá vai disto" ou "lá vai alho". Na ressaca das medidas impopulares relativas às pensões e idade de reforma, mais umas trapalhadas anexas antes e durante o Verão (caso do pseu arrastão de Carcavelos), saiu uma bateria de medidas destinadas a "combater o insucesso escolar" e a manter os alunos na Escola, assim como aquele programa destinado ao Inglês no 1º ciclo. Já qui bati nessas medidas todas, por serem feitas em cima do joelho, sem planeamento e sem uma articulação coerente.
A isso voltarei com mais detalhe.
Mas por agora fico com a nova do dia, no rescaldo da miséria eleitoral do PS no Domingo.
Como aparentar actividade governamental, com a economia estagnada e entregue a um abrenúncio colocado no Executivo pelo BES ?
Ataca-se de novo na Educação ?
E como ?
Prometendo que cada menino e menina com mais de 3 negativas no Natal, terá aulas extra a partir do Ano Novo.
Em tese isto parece uma coisa bem pensada. Compensar os alunos, ou melhor, obrigá-los a trabalhar mais para recuperar o seu atraso.
Só que como as medidas anteriores, isto chega já com o ano lectivo em andamento, sem o devido planeamento e é atirado ao ar, esperando que caia em cima dos outros.
Passo a explicar mais em detalhe.
Conheço muitos professores e sei que ainda estão a sair despachos e circulares a explicar como se aplicam as medidas - muitas delas ilegais do meu ponto de vista, mas aparentemente não para os sindicatos, que as não contestaram juridicamente - relativas aos horários dos docentes no que se prende com a componente lectiva e não-lectiva.
Em muitas escolas os horários dos profs. têm andado em bolandas, provocando um extremo desânimo.
Cá para mim é bem feita, porque a maioria votou no PS em Fevereiro.
Mas pronto, foi um erro que não deverão repetir.

Agora, com esta nova medida, que acarretará a existência de aulas para os alunos com um nível de insucesso que faça prever reprovação no fim do ano, pode voltar tudo à estaca zero ou perto disso.
Porque será necessário planear só isto:

a) Em que disciplinas o aluno terá aulas-extra ? Em todas as negativas ? Ou seja, quem tem 3 negativas não tem apoio a nada e habilita-se a um azar e quem tiver 4 negas leva apoio a tudo ?
Acho injusto.
b) Em que horário serão dadas essas aulas ? Haverá compatibilidade de horários entre docente e alunos ou mandarão dar apoio a um outro professor qualquer da disciplina, que esteja disponível ? E as faltas a essas aulas servirão para alguma coisa ? Serão só os alunos de uma turma ou vários ao molho, cada um com os seus problemas específicos e professores de origem diferentes ?
c) E as salas para essas aulas, onde estão ? Muitas escolas estão a rebentar pelas costuras e para que os professores cumpram as horas não-lectivas, as costuras começaram a romper-se por falta de espaço. E agora que cerca de, pelo menos, 20% dos alunos (no Natal é o mínimo que se espera de alunos com mais de 3 negas) vão passar a ter essas aulas de apoio ?

Tudo isto é uma palhaçada mal congeminada só a pensar no show-off mediático (imediato) e que vai ser aplicada como sempre são aplicados estes remendos num sistema já de si meio manco: com os alunos desinteressados, com muitos professores desmobilizados e com a fuga normnal nestes períodos de novidades - os professores ao perceberem que dando 4 negativas vão ter que dar aulas de apoio, em muitos casos vão poupar uma ou outra negativa e assim se construirá um ano de sucesso educativo estatístico.
Nada que já não tenha ocorrido no passado, quando as regras de avaliação mudaram no início da década de 90. Depois tudo foi gradualmente voltando ao lugar.
Porque o que é feito a pensar no efeito comunicacional imediato e sem um planeamento que atenda ao que se passa no terreno e às condições materiais e humanas disponíveis está sempre condenado a uma agonia, mais curta ou mais longa.

AV1

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