segunda-feira, outubro 10, 2005

Vamos a Contas I - O Concelho

Vitória retumbante da CDU, perante o descalabro do PS, colocando a relação de forças ao nível de há uma década atrás, pois os resultados estão entre os de 1993 (José Luís Pereira) e de 1997 (João de Almeida).
Trata-se pois - e a questão da abstenção reforça mais do que diminui essa ideia - de que a população achou por bem passar carta branca à gestão da CDU.
Discordo disso, mas vejo bem o que aconteceu.
Tirando o Bloco, as oposições locais desfazem-se como poeira ao vento.
Porquê ?
A resposta não é muito complicada.
No caso do PS, porque a uma riqueza de meios de campanha, faltou uma equipa alargada de qualidade que mobilizasse a insatisfação com a CDU, em especial a que se refugia na abstenção. Apesar do relativo alarido e da produção de textos para a imprensa, o PS local e a sua direcção tornou-se uma facção em luta dentro do seu próprio partido. À CDU bastou que o PS se destruísse a si mesmo, a partir de dentro, aliás como já vem sendo habitual. A linha "socrática" da candidata, o facto de o seu currículo não passar pelo concelho mas apenas por "empregos políticos" caídos no regaço e o carácter paradoxal do diagnóstico da situação do concelho e das medidas prometidas, fez com que tudo parecesse muita parra para pouca uva. Naquilo que mais me interessou - ou seja, na prosa produzida - a qualidade foi normalmente fraquita, pois à excepção de um ou dois colunistas já conhecidos, apareceram outros apenas de ocasião, mais felizes em lerem-se a si mesmos do que em fazerem-se compreender (caso gritante de Miguel Latas) ou então de se elogiarem a si mesmos, para garantirem um futuro pós-Eurídice (Vitor P. Mendes). Por fim, a tentativa de bipolarização forçada do eleitorado era postiça e isso via-se à légua, como aqui repetidamente denunciámos.

No caso do PSD/CDS, os maus resultados eram mais do que previsíveis, por muita bonomia e fair-play que o candidato demonstrasse. O amadorismo da campanha, muito visível nos seus materiais, a escolha do terreno do tradicionalismo como âncora do discurso, quando já a CDU e o PS tinham aliciado esse território de uma forma ou outra, e a ausência de uma linha de rumo faziam prever resultados maus. Se tivessem concorrido isoladamente, o CDS manteria a sua alegre existência formal e o PSD teria sido ultrapassado pelo Bloco de Esquerda. Lições para o futuro: uma campanha não é uma actividade recreativa dos tempos livres.

Já no caso do Bloco, quais as razões do sucesso:
Em primeiro lugar, e ao contrário do que injustamente a candidata do PS veio afirmar no ressabiamento da derrota, foi a postura positiva que levou à adesão de muitos que, não estando satisfeitos com a gestão CDU, também não acharam no PS uma opção credível de poder. Ao contrário de insinuações malévolas e descabidas, o Bloco fez mais mossa no PS do que na CDU, porque cativou votos de abstencionistas natos como eu ou de gente do PS desencantada com a liderança local. embora a importância da eleição de um vereador seja mitigada pela maioria absoluta, pode ser um primeiro sinal de renovação à esquerda do eleitorado, desde que as causas do Bloco não se tenham esgotado na campanha e não vença o comodismo de achar a missão cumprida.

Quanto ao MRPP, mirrou mais um bocadinho, vítima um pouco do Bloco ou da percepção do eleitorado que esse é que era um voto de mera fé.

AV1

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