terça-feira, novembro 22, 2005

Ando mesmo farto...

... da doença do politicamente correcto que atacou grande parte da nossa sociedade que leva à discussão no plano das ideias, pretensamente elevadas, recusando a concretização comezinha, para que se não "ridicularize a questão".
O problema é que a vida das pessoas acontece na realidade do quotidiano e não nas nuvens etéreas das cabecinhas pensadoras que legislam a partir dos gabinetes.
Não é que seja grande fã daquelas tiradas trauliteiras, por dá cá aquela palha, tipo cassete-sindical com 25 anos.
Só que ontem, ao ver o Prós & Contras, a que resisti até ao primeiro intervalo (o resto ficou a gravar...), estava a começar a ficar claramente irritado com os dirigentes sindicais que falaram (Paulo Sucena apenas semi-soporífico e um Dias da Silva a tentar esconder o acordo com a Ministra) pois, ao abordarem a questão das aulas de substituição, optaram por discuti-las no terreno neutro da sua validade pedagógica ou da sua aplicabilidade prática, ou seja no âmbito das "grandes ideias", esquecendo que muito do que leva ao desânimo dos professores que conheço é o facto de o seu horário de trabalho ter sido aumentado em 20 a 25% sem qualquer compensação financeira.
Quer isto dizer que em vez de 22 horas efectivas de horário, passaram a trabalhar de 27 a 29 sem qualquer acréscimo salarial e, pelo contrário, se faltarem a uma dessas horas ela é-lhes descontada como se fosse uma das 22 da praxe.
O que é estranho, no mínimo, pois o valor de 1 de 28 horas não é o mesmo de 1 de 22. Mas, está bem, somos maus a Matemática.
Que um sindicato esqueça isto, com receio de ser visto como ligado a questões materiais, é mau, agora que nem sequer consiga formular este problema de uma forma perceptível ainda é pior.
É que, que se saiba, nenhuma classe profissional dependente do Estado viu o seu horário de trabalho aumentado (em cima da subida da idade de aposentação), sem qualquer contrapartida.
E a verdade é essa: não me parece que os docentes coloquem em causa a existência de aulas de substituição se o sistema for bem organizado e planeado, desde que elas estejam contempladas no horário de trabalho previsto no respectivo Estatuto de Carreira, o que é perfeitamente irreal é que alguém tire um curso de Línguas ou de Biologia e só possa legalmente leccionar no seu grupo disciplinar, mas agora já possa desenvolver "actividades" de substituição de docentes de História ou Educação Visual ou mesmo ir fazer prolongamentos a Escolas Primárias e ao Pré-Escolar, como acontece por aí.
Eu seu que o pólipo erecto que diz ser representante dos pais (gostaria de saber se a Confap é como aqueles sindicatos tipo-cogumelo que se representam a si mesmos e mais meia dúzia de amigos) gosta muito de largar os filhos na Escola das 8 da manhã às 6 da tarde e ficar descansado, mas porventura se esquecerá que os docentes também têm filhos e que em nenhuma outra classe profissional se permite a sarabanda que se aceita na Educação.
Ou alguém está ver um médico-cardiologista ir substituir um oftalmoilogista, quando este falta ?
Ou um funcionário das Finanças ir a correr substituir um funcionário judicial ?
Não, pois não ?
Mas a demagogia politicamente correcta da Ministra da Educação tem tido o beneplácito da imprensa, dos Miguéis Sousas Tavares deste mundo e ainda de umas proto-organizações elevadas ao estatuto de parceiro social, para apresentar os professores como responsáveis pelo insucesso escolar.
E isso é vergonhoso, pura e simplesmente.
Assim como eu consigo demonstrar que os 7 ou 9 milhões de pretensas faltas dos professores, que são horas de faltas e não dias, dividindo pelo número de professores e de dias previstos de aulas (e mesmo esquecendo os feriados, faltas por atrasos na colocação de docentes ou para serviços como correcção de exames e provas de aferição que são tarefas que o próprio Ministro incumbe aos professores), se resume a que cada aluno, por semana, terá duas horas de "furo".
Mas claro que para os sindicatos, também parece chegar a crítica à "falta de ética" do Ministério em revelar estas informações, faltando-lhes a máquina de calcular (embora se faça de cabeça ou com papel e lápis) para desmontar a falcatrua do estudo ministerial, ainda por cima feito como extrapolação de uma amostra cujos critérios se desconhecem.
Mas nos tempos que correm é o que se arranja.
E hei-de voltar a esta vaca, que está longe de estar fria.

AV1

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