terça-feira, novembro 29, 2005

País em 2ª mão

Como quando um tipo fica chateado, tudo para onde olha parece estar carregado de negrume, hoje foi dia para reparar como Portugal ou pelo menos a parte suburbana dele em que vivemos se encontra dividida entre os discursos da modernidade e a dificuldade da malta se livrar dos tarecos velhos.
Já alguém reparou na quantidade de stands de carros em 2ª mão, a céu aberto, que por aí embelezam as nossas terreolas ?
Cá em Alhos Vedros, já faz parte da paisagem aquele logo à entrada da Avenida Bela Rosa, a servir de contraponto à vivenda crescentemente degradada que servia de escritório à Helly-Hansen/Norporte.
Depois são os apartamentos que se tentam vender para comprar casinha nova. Ambição legítima, pois em tempo de crise é mais fácil negociar a compra; o problema é consumar a venda do que se quer largar. E os anúncios de Vende-se acumulam-se nas janelas qual rou pa estendida ao esquecimento.
Por outro lado, vemos nascer pseudo-parques industriais que não passam de barracões semi-provisórios, enquanto a geração anterior de barracões está ao abandono, sendo um caso chocante o das antigas instalações da Fristads, cujas janelas se limitam a estar teoricamente bloqueadas por paletes de madeira, já que tudo o resto foi destruído ou pilhado.
Isto para não falar nos entulhos de obras largados por todo o lado, dos montes de pneus esquecidos onde dá jeito, dos restos de obras públicas largados onde calhou, como o Oliude tem fotografado um pouco por todo o lado, assim como a pura e simples falta de civismo mesmo em espaços nobres da capital como o Brocas também hoje nos mostra.
Sinceramente, não sei se é do espírito natalício que me invade, mas é nesta altura do ano que a fealdade de tudo isto, o desmazelo constante, o desleixo evidente, a incúria permanente, me custam mais a digerir.
Sei que a culpa é de todos nós e, por consequência perversa, de ninguém particular.
Mas também sei que não há verdadeira modernidade que se construa em cima disto, porque é só raspar o verniz e ele estala logo.

AV1 (com uma telha de todo o tamanho)

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