segunda-feira, dezembro 12, 2005

4ª Jornada

E a coisa parecia ir menos bem para Manuel Alegre na primeira parte, algo vago e pouco acutilante, quando Francisco Louçã resvalou para aquele tipo de paternalismo que ele gosta de exibir perante todo o resto da Esquerda, em particular, e do mundo, em geral, de ser ele o mais à esquerda de todos, o homem que aos 16 anos já tinha sentido o peso do Fascismo nas costas, o irmão de todos os que se manifestaram contra "o Império" nas ruas de Londres, Barcelona, etc, contra a guerra do Iraque.
E foi aqui que Manuel Alegre, até de forma mais mansa do que eu gostaria, o colocou no seu lugar e denunciou a profunda arrogância moral que Louçã exuda por todos os poros e que só acalmará perante o padrinho Soares, para quem ele anda a fazer trabalho de sapa.
Alegre - e muito bem - relembrou que as superioridades morais de certas esquerdas estão longe de ser agradáveis nas suas consequências.
É que o discurso patriótico de Manuel Alegre visa fazer renascer em nós algum orgulho e auto-estima do que temos específico, enquanto Louçã gosta de exibir um cosmopolitismo que desmascara o seu discurso em prol de Portugal.
O que entusiasma Louçã não são os portugueses, são os que se manifestam contra "o Império" (leia-se E.U.A.) e nisso padece daquele velho mal de uma esquerda que gosta de dividir a sociedade em bons e maus, ficando nós sem saber que destino reservaria ele aos que, portugueses ou não portugueses, sejam a favor "do Império".
E aqui a vantagem que Louçã tinha vindo a acumular, perante um Alegre demasiado apagado para o meu gosto, desvaneceu-se por completo e deixou à vista o líder de facção, que é intolerante em nome da tolerância e aquele que veio para esta campanha com a bandeira do protesto porque sabe que apenas anda a cerrar fileiras para as entregar - se tudo lhe correr conforme o planeado - a Soares, tal como o seu adversário Jerónimo, divididos, mas meios-irmãos do via do padrasto que escolheram.
Alegre, na recta final, animou-se, ergueu a voz e desarmou Louçã, quando eu já estava a ficar preocupado com a sua firmeza.
Foi como se tivesse conseguido virar o resultado já no período de descontos, graças à displiscência e tiques de exibicionismo do adversário.
Neste debate percebeu-se claramente que Alegre luta contra todos os outros candidatos, enquanto Louçã faz parte de uma tríade que se preocupa em manter o maior número possível de eleitores nos seus redis pré-destinados, para que eles não tresmalhem.
Pode haver quem goste e que, ofuscando-se com o brilho das fintas, não repare nos cruzamentos para fora e se mantenha fiel às ordens.
Mas no meu caso, sempre tive tendência para tresmalhar e para não gostar de sobrancerias morais de quem tem muito pouca obra para mostrar, para além do ponto picado em todas as manifs onde esteja assegurada a presença televisiva ou o inconsequente voto contra tudo e mais alguma coisa.
Por isso continuo Alegre, mesmo se no íntimo gostasse mais de ver na televisão uma energia que entusiasmasse mais os que comigo também querem tresmalhar e saltar as cercas aparelhísticas.

AV1

1 comentário:

AV disse...

E sabe bem saber que tudo serve apenas serve para levar o Soares ao colo para a 2ª volta ?