sexta-feira, dezembro 16, 2005

O Triângulo das Bermudas





Nestes últimos dias, acumularam-se declarações de responsáveis socialistas bem demonstrativas da desorientação que grassa na agremiação e o desnorte completo da iniciativa de catapultar Soares para a Presidência a bem ou a mal.
Já na 4ª feira, na Quadratura do Círculo, Jorge Coelho apelara à desistência dos outros candidatos da Esquerda em favor de Soares.
Ontem e hoje foi a vez de luminárias do calibre de António Vitorino (que recusou candidatar-se, que nem sequer foi ao Parlamento votar o OE, que anda mais interessado em fazer concorrência ao Tio Patinhas) e António Costa (que se tivesse vergonha das conversas que se conhecem após o início do processo da Casa Pia devia ter entrado em hibernação), tentarem dizer o mesmo de formas mais subliminares ou menos explícitas.
Porque a verdade é simples: num primeiro momento, e perante o arranque da candidatura de Alegre, as candidaturas de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã eram úteis para estreitar a liberdade de voto da esquerda não socialista, pouco convencida por Soares e, ao mesmo tempo, alargarem o universo dos votantes, o que reduziria as chances de Cavaco passar à primeira volta.
Agora, com Soares empastelado nos 20% de intenções de voto, não conseguindo convencer mais de metade do eleitorado do PS e com Cavaco a passar calmamente pelos debates (e um Soares muito agressivo no debate com ele só o tornará vítima de um ressabiamento e mais nada), o desespero do PS começa a revelar-se e a insinuarem que é hora de tocar a rebate em favor do patriarca.
Só que, a esta altura da (pré-) campanha, Jerónimo e Louçã já não podem recuar sem que um grande descrédito se abata sobre eles, pois o plano era encarneirar os seus eleitores agora e depois passá-los em cerimónia sacrificial para Soares, depois de ajudarem a afastar Alegre.
Por isso, o problema se afigura bicudo.
E os apelos de Coelho, Costa e Vitorino até podem, mesmo se aceites por um ou dois dos compagnons de route, fazer ricochete se os eleitores abrirem os olhos e perceberem que um confronto bipolar Cavaco/Soares mais não é que a cedência a um capricho de Soares (que nunca enfrentou Cavaco nas urnas e quer provar que é capaz de derrotá-lo) e um atraso de 10 anos na nossa vida política, reatando-a em 1995.
Por isso, a única solução é a aposta num outro tipo de confronto, mais mobilizador e menos resultante de caprichos pessoais e artimanhas dos directórios partidários.
Na segunda volta, a existir, Soares deve ser trucidado por Cavaco, bastando vermos os exemplos tristes que ultimamente o clã Soares nos tem dado em matéria eleitoral.
Jerónimo e Louçã, nem que o jacaré tussa, passarão à segunda volta.
Por isso, resta Alegre como última esperança da Esquerda.
Mas, se o que querem é um derby Cavaco/Soares, quem sou eu para me opôr...
Só que nessa eventualidade , e como eu muitas eleitoras e eleitores de esquerda, fico em casa.
O Cavaco é demasiado magrinho para ser o Bicho-Papão.

AV1

2 comentários:

Carlos (Brocas) disse...

Eu, em caso de isso se dar (Boliqueime/Praia dos Tomates) vou votar, até porque moro tão pertinho da Escola Básica que, de manhã quando sair de casa para ir tomar café, passo por lá e descarrego o voto.
Não é por nada mas quem sabe uma dia candidato-me a PR e depois vou gostar que votem em mim.

AV disse...

Pois, mas no meu caso já não dá mesmo para me candidatar a PR, porque mais de uma dúzia de anos de abstencionismo (de 85 aos referendos) lixou-me por completo o cadastro.

AV1