Pura Inveja !

O regresso à minha vocação crítica negativa faz com que eu volte a reparar em coisas como estas: apesar dos cortes em 50% nos adidos, adjuntos, assesores ou lá o que há mais desse tipo nas Embaixadas portuguesas, foi nomeada uma nova assessora na área da Comunicação Social para a representação lusa em Londres, um posto bem situado e melhor pago, pois dá um ordenadito bruto (com as respectivas alcavalas) acima do de Presidente da República.
É coisa apetecida e, pela natureza algo vazia da sua função (quem é que nos media londrinos está interessado em saber a nossa opinião sobre o que seja ? Só se esta semana quiserem saber quemn é aquele Beto do Benfica, que tem dois pés tortos mas mesmo assim marcou um golo ao MU), um lugar que requer qualificações específicas.
Por isso, foi recrutada Maria Monteiro, por acaso filha de António Monteiro, o anterior Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Não tenho nada contra, porque a subserviência às linhagens é multissecular em Portugal.
Há quem use os dois últimos nomes para se fazer distinguir bem: a menina Cunha é quase anónima, mas a menina Teixeira da Cunha é outra coisa e então se for Teixeira de Vasconcelos da Cunha ainda melhor.
Eu tive uma colega de Faculdade que, emborafossem de um tio materno (se não erro a ascendência) e até o conjunto não constasse do seu BI, usava dois apelidos muito conhecidos de uma figura do pós-25 de Abril para se destacar.
E que a coisa funcionava, funcionava.
Por isso, se escolheram a menina ou senhora Monteiro fizeram certamente muito bem.
Aliás, o sempiterno assessor para a Comunicação Social do MNE cá em Lisboa, o ex-jornalista Carneiro Jacinto, apressou-se a dizer que ela era muito qualificada para o lugar e que estava tudo nos conformes. Aproveitou foi para, assim de esguelha, dizer que a nomeação já tinha oito meses e só tinha saído atrasada no Diário da República.
Claro que há oito meses nos encontrávamos naquela simpática fase de transição entre governos de cores políticas diversas, em que normalmente se fazem nomeações apressadas para garantir colocações maneirinhas a parentes, amigos e vagamente conhecidos, desde que se pensem ser futuramente úteis.
Mas é óbvio que isto já devo ser eu a extrapolar, claro.
Porque o que me move os dedos sobre o teclado é a pura inveja.

AV1