segunda-feira, janeiro 09, 2006

Andamos nisto há 400 anos

Reparei, quase por acaso (bastou-me consultar, para confirmar a ideia, um livrito que o C. Leitores me ofereceu por comprar outra coisa qualquer, chamando-se o dito História de Portugal em Datas), que desde o século XVII que os nossos inícios de século (e os meados e finais, na maior parte dos casos) são quase sempre complicados e muitas vezes graças à colaboração dos nossos vizinhos castelhanos e dos seus aliados por cá, tipo Pinas Mouras e moiteiros amantes de sevilhanas.
No início do século XVII tínhamos cá o Filipe III de Espanha que depois da morte do papá (Filipe II de lá e I de cá, que ainda era meio-portuga), desatou a não cumprir o prometido e a levantar impostos e meter-nos em guerras com os ingleses e holandeses que não eram nossas e que nos custaram umas boas fatias do Império e iam levando mesmo o Brasil.
No início do século XVIII, para além do tratado de Methuen em que decidimos trocar vinhos por fazendas com os ingleses e, à custa da baixa dos direitos alfandegários, comprometer de vez qualquer hipótese de arranque industrial, ainda decidimos meter-nos em guerras com Madrid, acabando por capitularmos em Serpa e andarmos meio à nora com motins em Lisboa e tudo o mais, até que o ouro do Brasil começou a jorrar e nos manteve à tona até ao Terramoto.
No início do século XIX, cortesia do Napoleão e dos seus amigos castelhanos que abriram o caminho, levámos com três invasões em cima que nos deixaram de rastos durante umas belas décadas, não havendo revolução liberal que nos safasse e nos recuperasse Olivença.
No início do século XX, por fim, andámos com os republicamos às turras com os monárquicos, enquanto se sucediam os escândalos em torno do uso dos dinheiros públicos (claro que isso não é uma novidade recente por cá), acabando o gorducho D. Carlos por pagar as favas da complicação, sem que a República tivesse vindo resolver fosse o que fosse.
Por isso, pessoal, o melhor é não ficarmos muito preocupados, porque este início de século XXI apenas vem ajudar a confirmar a regra dos maus inícios; agora resta ver se, à excepção do século XVIII, isto chega vagamente a endireitar, com ou sem miragens sebastiânicas e de Quintos ou Sextos Impérios.
Pelos vistos, neste particular, a tradição ainda é o que era.

AV1

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