É recorrente e justificada a crítica feita a Bush e ao actual executivo americano pela sua ligação aos interesses petrolíferos e ao que ganham com este clima de instabilidade.Nesse contexto, são normalmente elogiadas as acções desafiadoras de Hugo Chávez, o homem que quer ser referendado como Presidente por mais um par de décadas, e mais recentemente as nacionalizações decretadas pelo Presidente boliviano Morales.
Por acaso, só lateralmentente, qualquer desses três casos me interessa aqui, pois o que muitos opinadores de alguma esquerda (?) têm feito por esquecer é a acção do governo pêtista de Lula em relação à Bolívia.
Ontem na TV Record - é o que se arranja por cá na Cabovisão, com a graça da IURD - um ministro brasileiro (da Energia ?) disparava em todas as direcções, mas principalmente contra Morales, demonstrando como se pode ser de esquerda, ou dizer-se de esquerda, contra os monopólios, o capitalismo e tudo o mais, mas ficar logo todo eriçado quando se lhes toca nos cristais.
A coisa é fácil de perceber: com as nacionalizações bolivianas, uma das companhias que terá mais a perder será a Petrobras e aí não há populismo de esquerda que resista aos efeitos negativos de outro populismo de esquerda além-fronteiras.
Longe vão os tempos das solidariedades internacionalistas, da defesa das nacionalizações contra os grandes conglomerados económicos em defesa dos interesses nacionais do "povo".
Pois.
Isso só se aplica contra as multinacionais americanas ou europeias.
Agora quando nos toca a nós, tá quieto, que não estamos para brincadeiras, OK ?
Num caso como este, o PT de Lula e o próprio Lula funcionam à moda do belo faroeste americano.
Nós somos maiores que vocês, vocês estão a incomodar-nos, vejam lá se não querem aleijar-se e levar umas bem assentes !
É que isto quando toca ao dinheirinho, e como nós bem sabemos também por cá, não há princípios ideológicos que resistam, nem coerências políticas que se consigam manter.
Zé Migas (cartoons de Lailson e Simanca)
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