sexta-feira, maio 12, 2006

Foi com supremo espanto

... e não curta admiração que hoje, finalmente, ao percorrer com atenção este simpático cd-rom distribuído na semana passada com o Exp'esso, organizado pela também simpática arquitecta Ana Tostões e editado pela Ordem dos Arquitectos graças a subsídios, neste caso, acho que bem empregues, constatei não existir referenciada mais do que uma obra arquitectónica de relevo para toda a Margem Sul e Península de Setúbal, ao longo de todo o século XX.
E mesmo essa - um conjunto habitacional construído em Setúbal em meados dos anos 80 na Praça de Portugal - eu próprio, tipo conservador nesta matéria e avesso aos minimalismos modernistas, não a consideraria digna de especial menção.
Já sabemos que por estas bandas, em tempos recentes, nunca se nadou em dinheiro que permitisse grandes obras...
Corrijo...
Por estas bandas nunca abundou dinheiro em bolsos que pertencessem a gente com um mínimo de gosto e visão em matéria arquitectónica, fossem eles particulares ou instituições públicas.
Por isso não espanta este vazio numa geografia da arquitectura de qualidade.
Aliás, deviam era fazer uma cartografia da pior arquitectura possível, não só em matéria de urbanizações, mas em especial no que se refere a edifícios públicos.
Aqui no concelho temos dois dos exemplos mais gritantes de réplicas aparvalhadas de tiques coiso-cosmopolitas.
É o caso da Biblioteca Municipal/Núcelo Cultural de Alhos Vedros, derivado mal-mastigado do minimalismo à Siza Vieira, neste caso agravado pela pequenez da obra e abstruzo enquadramento no espaço onde está (relembremos que fica perto da Igreja de São Lourenço e defronte para casario chão de feição popular).
É o caso também da estação dos CTT da Moita que parece um enteado, bastardo e enjeitado (é só para reforçar a ideia, não sei se estão a ver...), atarracado e cromossomicamente pouco favorecido de uma esquina das Amoreiras do Taveira, elas próprias já um modelo de gosto ainda duvidoso.
Mas, nesse particular do mau gosto, aqui estas bandas pediriam meças a qualquer outra zona suburbana do país, pela acumulação da preguiça criativa, da desinspiração sistemática e pelo forretismo evidente de empreendedores privados e públicos, sempre adeptos dos projectos clonados à meia dúzia.
No meio disto tudo, o recuperado Fórum Cultural da BB até parece obra de gosto quase apurado.

Zé Tijolo

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