O Poder do Humor

Confesso o meu relativo desconhecimento do assunto até hoje à tardem quando passei de raspão pelo Eixo do Mal na Sic-Notícias, programa que não aprecio muito, por se tentar dar demasiado ao sério.
Muitos de nós terão ouvido falar na "ousadia" do presidente Bush Jr. que levou para o jantar dos correspondentes da imprensa na Casa Branca, um imitador seu com o qual fez um pequeno sketch sobre as suas dificuldades e tartamudeios linguísticos, aqueles com quem tantos gozam, quando não lhes saiem à rifa a si próprios.
O que quase ninguém soube é que o humorista convidado, com uma intervenção de 25 minutos, foi Stephen Colbert, o mesmo da equipa do Tonight Show com jon Stewart e autor do satírico The Colbert Report.
Para quem conhece o género do rapaz, e está a pensar na ocasião, com o Presidente e todos os pavões da imprensa da Casa Branca ali em frente, já deve estar a antecipar o sucedido.
Foram 25 minutos de, olhos nos olhos, total acidez crítica do Presidente, da sua política, da comunicação social e da sua conivência com as mentiras do governo americano ou mesmo com a sua cobardia em levantar questões polémicas durante todo o primeiro mandato.
Colbert, defronte de uma audiência de jornalistas, gabou-os em nome da Casa Branca pelos 5 anos de colaboração e silêncio sobre assuntos somo as armas de destruição maciça, o aquecimento global e tudo o mais, criticando-os pela recente onda de investigações sobre assuntos mais complicados como as prisões americanas fora do seu território, as fugas de informação selectivas e muito mais, aconselhando-os a relembrarem a doutrina:
- O Presidente decide.
- O assessor de imprensa do presidente comunica as decisões.
- A imprensa anota e transcreve para publicação essas decisões, quanto muito fazendo-as passar por um corrector ortográfico.
O silêncio na sala foi quase total.
O silêncio na imprensa nos dias seguintes foi quase completo quanto à intervenção de Colbert.

Imagens aqui em resumo e na totalidade no Google-Video, assim como aqui ou mesmo no YouTube, integradas numa peça sobre o manto de silêncio que se seguiu, partes 1 e 2).
Cobertura (escassa) da imprensa no USA Today, lista de referências ao caso no Washington Post (eu por caso tenho acesso ao conteúdo, mas é só para utilizadores registados), ausência de cobertura no New York Times, rapidamente denunciada aqui.
Opiniões sobre o sucedido aqui, aqui e aqui.
Reacção de Colbert ao "silêncio" aqui.

Lições do episódio:
- Só na América é que possivelmente um cómico tão ácido como Colbert seria convidado para o evento e teria a coragem de fazer o que fez, safando-se apenas como "silêncio".
- Aqueles que, do lado dos "politicamente correctos" de esquerda criticaram os "excessos" dos cartoons dinamarqueses com conteúdos anti-islâmicos, como classificarão esta performance completamente insultuosa e in your face de Colbert?

Eu, cá por mim, como deverão calcular, ainda estou a mudar de fraldas para adultos incontinentes desde que visionei a coisa e já tomei umas pastilhas contra as convulsões que o riso descontrolado me continua a provocar.

AV1