domingo, maio 21, 2006

Tudo o que vai, há-de vir...

Em finais de 1987, primícias de 1988, um dos meus primeiros trabalhos de campo (acho que talvez mesmo o primeiro) foi ir analisar, numa zona do Alto Alentejo, os efeitos na topografia da região, dos abates e arrancamentos de oliveiras que então eram subsidiados pela CEE porque se dizia que a produção de azeite no espaço comunitário era excessiva.
Aquilo ainda dava umas dezenas de contos por árvore arrancada e, como dizia uma colega minha, só quem era muito pobrezinho é que não se enchia de dinheiro a devastar os seus olivais.
O efeito era impressionante tanto visto no gabinete através de fotografias de satélite e estereofotografias áereas (não havia ainda o Google Earth), como no terreno, devido ao diâmetro das crateras formadas pelo arranque das árvores e respectivas raízes.
Já na época achava aquilo um disparate, mas os grandes proprietários de olivais encontraram uma mina nessa política agrícola estúpida, pois depois recebiam subsídios para reaproveitar os terrenos com outras culturas e muitos apostaram no eucalipto.
Belo dinheirinho correu por esses tempos para muitos bolsos.
Mas o tempo muda.
E agora o azeite está na moda.
É uma gordura "boa".
Descobriu-se que afinal os mediterrânicos tendem a ter menos problemas de coração se usarem regularmente o azeite e não as outras gorduras de substituição, como os óleos e as margarinas.
E mesmo em outras latitudes o azeite ganhou contornos de cosmopolitismo e não de artigo de países atrasados e de gostos duvidosos.
Agora replantam-se as oliveiras em grande escala, porque é o que está a dar.
Só tenho pena de não ter guardado nenhuma daquelas fotografias, em que se via o efeito dos arrancamentos nos solos.
Para recordarmos como, por este país, é o lucro imediato, do curto prazo, que motiva as decisões que são sempre tácticas e raramente estratégicas.
Já desde os relatórios do Michael Porter se sabia que a aposta da economia nacional deveria ser no que temos de específico e concorrencial a nível externo e não na adesão às modas lançadas por outros, onde se entra numa segunda vaga a disputar mercados já dominados.
O azeite é um desses casos, como a cortiça, o vinho, etc, pois é um produto específico, com uma implantação circunscrita a nível mundial.
E, ao contrário dos que acham que os produtos de origem agrícola têm pouco valor acrescentado e não são passíveis de arrastar inovação tecnológica, a verdade é que a investigação nestas áreas é cada vez maior e já não chega o lagar lá das traseiras do quintal.
Só que, agora, o investimento tem de ser maior e, como as oliveiras não são eucaliptos, demoram anos a dar azeitona como deve ser.
Por isso, muitas decisões tomadas com horizontes de curto prazo, acabam por ser, a médio prazo, bastante irracionais e desvantajosas.
E os carrinhos desportivos comprados há 12-15-20 anos há muito que estão fora de moda.
Não se podia adivinhar o futuro, dirão alguns.
Pois, realmente nós somos especialistas em não adivinhar as consequências de muitos dos nossos actos e depois nos desculparmos com a falta de capacidade prospectiva, com a falta de conhecimentos sobre essas evetuais consequências.
Mas a verdade é que, quando existem estudos técnicos que incomodam as decisões políticas ou privadas viradas para lucro fácil, o mais certo é irem ganhar mofo na gaveta de alguma secretária.

AV1

6 comentários:

Carlos (Brocas) disse...

Engraçado, eu mais ou menos nessa época andei pela zona de Coimbra a arrancar batata.
Será que o AV2 andou na pesca do Bacalhau?

Anónimo disse...

Prefiro a margarina para ir ao cú os iberistas...

Anónimo disse...

Essa é para o Av?

AV disse...

Andas amargo caro anónimo.
Ficarias mais alegre se te desse nome?
É que a rasteirice da argumentação, para além de falhar no humoir, é quase uma impressão digital intelectual.
E se é para chatear, precisas de comer ainda muita sopinha.

Anónimo disse...

Estava a falar com o outro filho, não te excites.
Um beijo de boas noites

Anónimo disse...

Só me excito ao vivo, nunca na base da realidade virtual.
Hábitos de quem não gosta de calos nas mãos.