quinta-feira, junho 29, 2006

A Carroça e os Bois

O nosso Primeiro-Ministro apareceu todo, todo contentinho, em cerimónia espaventosa, anunciando que todo o território passou a ter cobertura de banda larga, numa iniciativa que mobilizou os Correios e a PT.
Os mesmos Correios que cada vez prestam um pior serviço, sendo incapazes de contratar rapaziada capaz de dar com a minha porta de casa, mas em contrapartida oferecendo-me as contas de vizinhos meus ou de gente que até desconheço de ruas que conheço, mas bem afastadas.
Os mesmos Correios que inventaram envelopes multicoloridos para justificar sobretaxas para assegurar o mesmo serviço que antigamente, alegando com um aumento do tráfego de correspondência que as estatísticas desmentem.
Os mesmos Correios que, em vez de distribuírem a dita correspondência, agora distribuem publicidade e até têm livros, revistas, canetas e todo o tipo de brindes em algumas estações.
Quanto à PT, acredito que possa investir pois cobra-me todos os meses tanto em taxas fixas como eu gasto em chamadas.
Mas o senhor Primeiro-Ministro está entusiasmado que a banda larga tenha chegado a Alguidares da Gorongosa e a Freixo de Cachecol ao Pescoço.
Nada contra. Mas será essa a prioridade?
Estarão as populações em condições de disfrutar de tamanha maravilha?
Já todos saberão ler, rapidamente e compreendendo o que é lido?
Já saberão preencher um impresso em condições?
Ou apenas estamos a iludir o nosso atraso real e concreto com o brilho das "novas tecnologias"?
Não estará a carroça a acelerar desembestada, enquanto os bois ficam sentados à beira da estrada a olhar à espera do estampanço?
Acham sinceramente que a Noruega ou a Suécia começaram no início do século XX por colocar rede telefónica (a "banda larga" de então) em todo o lado e só depois expandiram promoveram a alfabetização, quer dizer, uma alfabetização a sério e não meramente estatística?
Não, pois não?

AV1

1 comentário:

Anónimo disse...

Assim é que é falar, ò Av.