sexta-feira, junho 02, 2006

Variações sobre o MEC - Parte I

A releitura de prosas com um quarto de século do MEC - quem não sabe ao que me refiro pode seguir em frente e passar a outro blog - faz-me reencontrar com, pelo menos, 25% dos contributos externos para a forma como escrevo. E talvez mesmo com 33,3%.
Para os que agora se entusiasmam muito com o Markl e o Ricardo Ataújo Pereira e restantes Gatos - e eu até me entusiasmo e rio com eles - gostaria que tivessem tido oportunidade de, na época própria, terem descoberto os artigos do MEC em 1980 quando Portugal andava a arrastar-se com os mesmos pés de chumbo de agora.
Eu sei que eles elogiam muito o Herman e tal, lá terão as suas razões para o fazer, mas ler as crónicas do Ricardo Araújo Pereira de hoje é reencontrar um pouco do desatino e da frescura (mas sem a surpresa total) do MEC de outrora, aquele que marcou toda a década de 80, antes de envelhecer como todos nós e perder muito do viço.

Em comum com o MEC tenho pouco, para além de uma vaga proximidade geracional - eu já passei os 40, ele ainda não chegou aos 50 -, mas quanto ao resto, népias. Não sou bétinho urbano, não sou monárquico, nunca estudei em Inglaterra, nunca fui obcecado pelos Joy Division nem gostei assim muito dos Durutti Column, nunca escrevi canções para a Manuela Moura Guedes, não tive filhas gémeas, nem nunca me meti em políticas, embora estivesse quase a votar nele quando era uma espécie de Bloco de Direita em forma de um só, quando se candidatou em finais de 80 ao Parlamento Europeu e falhou por uma unha negra.
O mais perto que estive de ir a um comício político foi quando ele foi fazer propaganda à minha Faculdade.

Mas o rapaz escrevia como ninguém naquela altura e muito nos ríamos nós com ele.
Lado a lado com o Pão CoManteiga do Zé Duarte, Carlos Cruz (eu não sabia de nada, garanto...), José Fanha, Bernardo Brito e Cunha, Joaquim Furtado e Mário Zambujal, foi o MEC que me ajudou a perceber que o humor não são apenas duas bojardas mal escritas, com palavrões e inuendos de 3ª pelo meio.

Por isso, o Escrítica Pop está a ser lido com a mesma disciplina com que li o antológico Toda a Mafalda do Quino.
Só estou autorizado por mim mesmo a ler 10 páginas por dia.
Que é para render mais o prazer do reencontro.
Porque entretanto o MEC envelheceu e o MEC que agora escreve na revista do Expresso é apenas um pálido reflexo do que foi.
Ainda é bom, mas já não é o que era.

AV1

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