O editor Eduardo Sousa Lima enviou-nos a "Zé Pereira" que é uma revista Carioca de Notícias, Contos, Banda Desenhada, Folhetim, Artigos Vários, Poesia, Ecologia, Intervenção política e social... enfim um Almanaque Moderno que se inspira nos Almanaques Brasileiros e Portugueses do princípio do séc.20. Com uma linguagem acessível a todos, mas que denota uma grande bagagem cultural da parte de quem a redige, mostrando os seus colaboradores um sentido do
que é popular e típico, sem cair no popularucho e "typical" da Sociedade Carioca actual.
que é popular e típico, sem cair no popularucho e "typical" da Sociedade Carioca actual.
Esta nova revista faz-nos retomar o prazer da escrita em português e é deliciosa a maneira como actos banais como os ''Reclames da Rádio SAARA" é descrito pela escriba Patrícia Rocha.
A Componente fotográfica joga essencialmente com o contraste proporcionado pelo Claro/Escuro, visto que atípicamente para os nossos dias, a Zé Pereira é em preto e branco, exceptuando as suas 4 capas que são coloridas em papel Couché.
A revista tem ao todo 68 páginas no formato, 19,8 cm X 28 cm e recebemos a as três edições já publicadas, por gentileza do editor, Eduardo Sousa Lima que as enviou gratuitamente para a casa/oficina do nosso fiel depositário o Luís Guerreiro, que ficou desesperado de não lhe terem enviado também para ele as 3 edições.
Vamos então à crítica desta revista na visão do AV2, pois o AV1 ainda não lhe pôs as mãos encima.
O #1 Tem capa de Jano, artista Francês que desenhou maravilhosamente o Rio de Janeiro, nos cadernos de viagens da editora Casa 21, este Jano publicou muita BD na mítica revista Metal Hurlant.
Na pg. 3, vem a explicação do Título da revista, que tem origem num português que viveu no séc-XIX no Rio e que com o seu bombo, convidava o povo carioca a festejar o Carnaval...
A tia Doca da Portela, tem artigo que fala da vida difícil da Jilçaria Cruz Costa, mulher dos 7 ofícios e Pagodista militante, com CD editado e esgotado ''Pagode da Tia Doca". O Artigo começa com a tentativa de rapto da menina Doca e aí quebra a narrativa e começa a contar toda a historia desde menina da Tia Doca...curiosamente só no final conclui a história dessa Tentativa de rapto, o que achei muito bem conseguido a nível formal.
Os reclames da S.A.A.R.A. (Sociedade dos Amigos e Adjacências da Rua da Alfândega), mostram o que é uma rádio comercial e popular ao mesmo tempo.
Os Portugueses cariocas são observados com atenção no artigo "Real Gabinete Português de Sardinhas na Brasa".
O Conto surge em "Ponte Aérea", os dramas dum exilado Carioca em Sampa e continua num desporto radical que será muito possível, é-nos contada por Fernando Gerheim em "Moisés, o atravessador de ruas" e consiste na Arte mortal de atravessar ruas perigosíssimas por
suicidas corredores e exímios na pericia de controlar a corrida, por tipos de carros, velocidades e até pelo aproveitamento do deslocamento de ar das viaturas, claro
que sempre morrem alguns atropelados, por vezes os melhores. A Vida Interior de João Ximenes Rocha, aparece no # 2 e Amarelo de Dimmi Amora no #3, note-se que todos os contos são ilustrados por artistas vários.
A Banda Desenhada de alta qualidade em desenho e argumento aparece em todas as três edições da revista.
No #1, aparece "Seu Pacheco e as Vozes" que no fundo é o preâmbulo dum Super-Herói que ouve as vozes do além, mas que na 4ª prancha já consegue evitar um
crime. "Seu Pacheco" concerteza vai-se tornar um Super-herói muito melhor do que o Super-Homem, norte-americano.
A BD do #2 trás à vida Adolfo Hitler e apresenta-nos a possibilidade desse ditador viver no Leblon onde vira o "Seu Dodó", uma estória hilariante comum tipo de desenho, muito "Chiclete com Banana" de Allan Sieber.
O #3 apresenta-nos um conceito gráfico estilizado na BD de Eloar Guazzelli, na estória 666.
Os artigos da "Zé Pereira" passam também pela intervenção ambiental com "Paciente terminal" sobre a poluição na Baía da Guanabara.
A trilha Sonora da Vida Fácil de Rodrigo Fonseca com ilustração soberba de Marcelo Quintanilha, conta-nos o que se ouve nos bares de Strip do Rio e também
nas casas de prostituição do "Bas Fond", agora já não tão "Bas", do Rio de Janeiro.
A desmistificação da nobreza dos Bragança em Terras de Vera Cruz é-nos contada com ironia por Terêncio Porto.
A Globo não é só a emissora de TV que nos manda as centenas de novelas que passam na emissora portuguesa SIC, é também uma padaria em Botafogo cujaespecialidade são as "Rosquinhas Torradas, Moreninhas e Crocantes", de ler com água na boca.
Ir para a Cucuia é uma expressão que significa ir para lugar nenhum, e neste artigo de Alessandro Ferreira, Carla Andrade e desenhos de Leonardo, por sinal muito engraçadas) retrata-se a caótica aventura de se viajar de "Ônibus", na cidade Carioca, especialmente perigosa à noite...
O Rio de Janeiro tem 34 cineclubes ! Artigo de Denise Lopes na edição #3.
Bem esta critica à revista tem de acabar, acho que com esta prosa enaltecedora à Zé Pereira, já tenhamos ganho uma assinatura vitalicia desta revista para ambos os editores.
Termino apenas dizendo que apenas senti e um prazer semelhante de ler uma revista Brasileira com a saudosa "Chiclete com Banana" de São Paulo.
Força Cariocas, continuem a Saga e muitos parabéns pela revista.
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