quinta-feira, dezembro 23, 2004

A análise política de Manuel Pedro

Chegou-nos a segunda parte da análise do momento político por Manuel Pedro. Agora é a vez de escalpelizar a situação do PS e do seu líder, José Sócrates.

E agora, José ?

José Sócrates venceu as eleições internas para Secretário-Geral do PS com uma maioria absoluta de mais de 80%.
Numa eleições em que se apresentavam três candidatos, João Soares teve uma votação humilhante de dois dígitos, já não sei se foi 1,6% ou 1,8%, enquanto Manuel Alegre apesar da dinâmica que impôs à sua campanha e da criação de um blog bastante aberto às opiniões externas, quedou-se por cerca de 16%.
Não foi desta que o PS reencontrou as suas raízes de esquerda.
O aparelho teve mais importância que os militantes de base e o aparelho do PS há muito tempo que tem o socialismo na gaveta e, pior do que isso, perderam a chave (como diz um amigo meu...).
E agora, José ?
O que fazer com esta quase unanimidade. É que uma coisa é o PS, outra é o País!
Não é tão linear a vitória do PS nas próximas eleições, muito menos a sua vitória por maioria absoluta.
A proximidade de Sócrates a Guterres é um facto que os Portugueses dificilmente engolirão. Porque o guterrismo foi uma nódoa negra na história do PS e criou bastantes anti-corpos no Portugal profundo, ao criar os jobs para os boys e ao perder dois referendos, o da regionalização e o da IVG, que neste caso ainda foi mais grave porque o próprio Primeiro-Ministro deu a cara pelo “Não” devido às suas opções religiosas, enquanto o PS apoiava o “Sim”.
Foram tempos difíceis porque se perderam oportunidades de investir nas potencialidades de Portugal e dos Portugueses e ao invés disso esbanjou-se dinheiro com a Expo 98, capitais da cultura e etc.
Eram tempos de vacas gordas, que tinham de ser aproveitadas para Portugal dar um passo em frente no caminho da modernização e apenas marcámos passo. Muita parra e pouva uva é a análise sintética da governação guterrista.
O culminar desta governação sem sentido foi a fuga de Guterres às suas responsabilidades, abandonando o cargo de Primeiro-Ministro, obrigando assim o Presidente da República a antecipar eleições. Guterres poderia, se quisesse, inverter a sua política e governar à esquerda como desde o início deveria ter feito, mas preferiu fugir. O que apenas serviu para o PSD e o PP ganharem as eleições, com os resultados catastróficos que se fazem sentir na vida actual dos Portugueses.
Será que Sócrates irá continuar (como tudo leva a crer, até pela equipa que o rodeia), os erros da governação do Guterrismo, de que fez, aliás, parte ?
Ou será que apresentará aos Portugueses uma ideia estratégica de desenvolvimento para o País, que está parado e não avança ?
Sou levado a crer que, infelizmente, será a primeira hipótese.
A primeira coisa que Sócrates disse quando o Presidente da República anunciou que iria dissolver a Assembleia da República foi que já tinha o apoio de António Vitorino para a formação do próximo governo socialista.
Ora isto fica mal a um líder que nas eleições internas para Secretário-Geral do PS sempre afirmou que Manuel Alegre não se candidatava a PM mas ele sim !
Uma candidatura com tal força (pelo menos de palavras) deveria ter uma base mais sólida de fundamentação da sua própria estatura de futuro PM e não se apoiar, pelo menos tão visivelmente, na estatura (e isto não é piada...) política de António Vitorino.
Dizem que em política o que parece, é !
E parece que Sócrates não tem bagagem ideológica, nem técnica, para ser um bom PM.
A nível ideológico, a sua postura é muito semelhanmte à da ala mais à esquerda do PSD e fez o PS ocupar esse mesmo espectro político; as diferenças são apenas de forma, porque o conteúdo no fundo é o mesmo.
A nível técnico, falta-lhe a sabedoria do conhecimento do Portugal real e dos problemas com que todos os dias os Portugueses se debatem, e essencialmente falta-lhe a audácia para tomar medidas impopulares para com a classe mais medíocre que existe em Portugal e que são os empresários.
Os empresários em Portugal não inovam, não apostam no design, não investem na imagem de marca e na qualidade do produto final e preferem apresentar produtos medíocres a preços baixos, isto devido a mamnterem mão-de-obra barata.
Mas, por muito barata que seja a mão-de-obra em Portugal, ela ainda é mais barata na Índia ou na China !
A verdade é que Sócrates não esperava que o Presidente da República dissolvesse agora a Assembleia da República e gostaria que o PSD e o PP governassem até ao final do mandato, mas os conselheiros do Presidente e a classe empresarial forçaram a que isso acontecesse, porque não se podia mais aguentar esta instabilidade política e económica que o governo de Santana e Portas deram ao País.
Sócrates precisava de mais dois anos para se rodear de pessoas de valor e de bons conselheiros.
E agora, José ?
Para terminar, imaginemos que dentro do PSD e devido à incompetência visível e, pior do que isso também à invisível, de Santana Lopes, se forma uma espécie de Conselho de Sábios que apresente uma moção em nome da salvaguarda do PSD enquanto partido político, de expulsão de Santana Lopes do cargo de Secretário-Geral e por exemplo metem Marcelo Rebelo de Sousa como candidato às próximas eleições.
Será que Sócrates tem arcaboiço para aguentar este Titã da política nacional ?
Quantos Socratistas iriam votar em Marcelo ?
Entre os Portugueses sabe-se bem a popularidade de que Marcelo desfruta e a simpatia que granjeou em todas as classes sociais...
Pois é, os tempos serão fáceis para Sócrates se o seu adversário for Santana Lopes.
Que saudades deve ter Sócrates dos debates a dois na RTP-
Mas Portugal é mais importante que Sócrates ou Santana e espero que os Portugueses votem em projectos de desenvolvimento para o País e não em personagens comuns, que apenas são mais ou menos fotogénicos ou telegénicos.

Manuel Pedro

22 de Dezembro de 2004


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