terça-feira, dezembro 28, 2004

As Entrevistas Fabulosas do Repórter AV

Conforme prometido, começamos a nossa série de entrevistas fabulosas com um interlúdio com o exmo Sr. Dr. Jobão Bolo, Presidente da Camarilha Municipal da Moita do Norte do Ribatejo, em que se pode vislumbrar, de forma cintilante, a sua visão estratégica para o futuro desenvolvimento da sua região e o seu génio como líder político local incontestado, vencedor de sucessivas eleições, exemplo para todos os seus concidadãos e figura sedutora para as suas concidadãs.

Repórter AV (RAV) – Senhor Presidente, Excelência, têem-se ouvido algumas queixas por parte de comerciantes dos Alhinhos Verdes sobre o facto de as obras que actualmente se estão a realizar no núcleo histórico não contemplarem estacionamentos para os carros.
Jobão Bolo (JB) – No núcleo quê ? Aquilo são apenas três paredes quase a cair, umas ruínas...
RAV - ... ?
JB – Para responder à sua pergunta, gostaria de dizer que aquelas obras ali em frente da Velhota e nessa ruela que vai até à Igreja, são apenas a 1ª fase dum projecto moderno, inovador e feito pelos melhores arquitectos paisagistas de que dispõe a Moita. Pretende criar-se ali um espaço de passeio pedestre dentro dum enquadramento paisagístico moderno e de acordo com as mais inovadoras técnicas urbano-paisagísticas e...
RAV – Desculpe senhor Presidente, não está a responder à minha pergunta. E quanto aos estacionamentos ? Os comerciantes queixam-se que não havendo depois sítio para estacionar, os possíveis clientes pura e simplesmente se vão embora porque não têm onde deixar os carros.
JB – Calma, calma, lá chegarei... Estava eu a dizer que o enquadramento técnico-urbano-paisagístico e modernamente inovador desse projecto respeita integralmente as necessidades e prioridades de todos e isto inclui também os comerciantes, mas temos que ser mais abrangentes e respeitar todos os outros utentes dos espaços públicos. Ou seja, as crianças, os velhotes, e também todos os outros estratos populacionais que não estão abrangidos nestas franjas da amostragem da nossa sociedade de todo o concelho e neste caso específico de toda a população dos Alhinhos Verdes.
RAV – Parece-me que o senhor Presidente se está a esquivar a responder à minha pergunta.
JB – Que era ?
RAV – Mau... o estacionamento !!
JB – Pronto, era só para ver se se lembrava, está bem, vou-lhe responder à sua pergunta (silêncio prolongado, em que o Presidente aproveita para fazer um telefonema). Só um minuto...!(Falando ao telefone). Está, sim... Riu Garça ? ... Estão-me aqui a entrevistar (murmúrios). Estacionamentos... Sim, sim... Está bem ! Tchau.
(De novo para o repórter AV) – Quanto à sua pergunta, naturalmente que pensámos nos estacionamentos e isto essencialmente para fazer face ao pedido de todos aqueles que se têm manifestado pela falta deles, neste futuro projecto moderno e tudo o mais que já lhe disse.
RAV – E qual é a solução que prevêem ?
JB – Está a ver aqueles edifícios onde se encontrava situado o Hospital dos Alhinhos Verdes, que servia a população de todo o concelho 24 horas por dia e que foi desactivado devido à falta de vontade deste Governo de direita que agora foi destituído pela sua incompetência pelo Presidente Jorge Sampaio...
RAV – Sim, a Misericórdia...
JB – Isso ! E está a ver um outro edifício velho e em ruínas ao lado que está cheio de azulejos velhos e a cair ?
RAV – Sim, a capela da Misericórdia.
JB – Isso, isso ! Está ainda aver aquela coisa velha, pelourinho ou lá o que é, que nem três paredes tem de pé ?
RAV – Sim, o Pelourinho Manuelino, símbolo do poder municipal de Alhos Vedros, que foi concelho durante séculos...
JB – Isso, isso, isso !!
RAV – Sim... estou a ver... continue.
JB – Vamos aplanar todo esse terreno, deitando abaixo esses velhos edifícios que nem três paredes têm e são só umas ruínas e fazemos aí o futuro estacionamento de carros !
RAV – Quer dizer que depois de terem destruído a Cadeia Velha, o processo de destruição do Património irá agora englobar também a Misericórdia, a Capela da Misericórdia e o Pelourinho.
JB – Pois claro, porque pretendemos para o Concelho um modelo de desenvolvimento ... hum, bom, você já sabe.
RAV – Sei, sei... E parará por aqui esta ideia moderna e, hummmmm... você sabe, de destruição do Património histórico de Alhos Vedros ?
JB – Claro que não; a fase seguinte será a destruição daquele edifício velho de duas ou três paredes, totalmente em ruínas, ali junto do Moinho de Maré.
RAV – O antigo Palácio que serviu como segunda sede do concelho de Alhos Vedros ?
JB – Isso ! Temos planos para toda essa área.
RAV – E quais são ?
JB – Vamos construir nesse espaço, que era a Guston, um Hotel moderno e inovador, o primeiro do concelho que estará enquadrado paisagisticamente junto ao rio, o que é sempre uma mais-valia.
RAV – Mas olhe que ali cheira muito mal, por causa dos esgotos que desaguam na caldeira, com os dejectos não tratados da Cidade Sol e do Vale da Amoreira...
JB – Estou a ver que tem o nariz muito sensível, graças a Deus que eu sofro de sinusite. Mas também isso já foi pensado. O Hotel irá ter um sistema que impedirá a abertura das janelas.
RAV – E quando os hóspedes quiserem sair ?
JB – Isso está tudo planeado. Estão uns minibuses sempre disponíveis para levar os hóspedes para usufruírem dos longos passeios do centro de Alhos Vedros, a qualquer hora do dia ou da noite. E antes que pergunte, também já planeámos o seu escoamento do Hotel para os minibuses, que será feito por mangas, como nos aeroportos, para que assim os hóspedes mais sensíveis não sintam a pequena aragem que vem do rio.
RAV – Vê-se que pensaram em tudo; muito bem !
JB – Mas isto é apenas o começo. Ali no sítio onde estão aqueles edifícios modernos, mas em ruínas que ocupam o espaço de terreno até à Igreja, sabe do que estou a falar ?
RAV – Sim, refere-se às antigas instalações da Gefa.
JB – Isso, isso, tudo isso será derrubado e aí será construído o Centro de Congressos Tauromáquicos (que será mais carinhosamente conhecido por Toiródromo) e será também a sede da C.V.C. Taurinas.
RAV – Estou abismado com tanta modernidade.
JB – Ah, ah, ah... e olhe que é caso para isso.
RAV – Já que falou na Igreja, tem o senhor Presidente, alguns planos para este espaço ?
JB – Ora a Igreja ... (ar irónico), a Igreja são apenas três ou quatro paredes quase em ruínas.
RAV – Ah, sim... por isso presumo que também a planeiam derrubar.
JB – Não ! Não !
RAV – Como assim ? Então a Igreja não é também um edifício velho, em ruínas como os outros que pretendem derrubar ?
JB – É, é !!
RAV - E vai daí ...
JB – Vai daí que mesmo não sendo um edifício moderno, inovador e de bom enquadramento urbano, não o derrubaremos porque temos outros planos para ele.
RAV – Sim ? E quais são ?
JB – Sabe que este ano o Orçamento para as Câmaras e o próprio projecto Polis sofreram imensas reduções de fundos e a nova sede dos Bombeiros da Moita não foi contemplada pelas verbas disponíveis. Por isso, e como isso já foi feito com sucesso nos anos 20 do século passado, a Igreja servirá de sede para os Bombeiros.
RAV – Não tenho mais perguntas... Algumas últimas palavras, senhor Presidente Jobão Bolo, Excelência ?
JB – Desejo a todos os cidadãos do concelho um ano de 2005 cheio de prosperidades, modernas e tecnicamente inovadoras, enquadradas no...

BUUMMMM
(Cai um peso de 2000 toneladas em cheio no senhor Presidente, Excelência *)

* Evocação, em jeito de homenagem, aos Monthy Python.


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