As peças jornalísticas sobre o que se tem passado em França e que alastrou um pouco a zonas envolventes, mostra-nos o vazio a que chegou o discurso dos dois lados da "barricada".
De um lado, a classe política francesa enredada nos seus próprios mitos, com um Chirac completamente à deriva a fazer discursos sem sentido, um Primeiro-Ministro sem saber o que fazer e um Ministro do Interior que sabe o que quer fazer, mas não quer ficar com os custos da impopularidade.
Do outro lado, foram entrevistados diversos elementos próximos do movimento de contestação - encapuçados ou dizendo que "não estiveram lá - que se limitam a dizer que não gostam da vida que levam, mas sem capacidade de apresentar um qualquer projecto alternativo.
No meio, os especialistas, claro, com os sociólogos à cabeça a debitarem a parafernália teórica toda que acaba por se resumir à constatação da evidência, ou seja, a integração cultural, social e económica das minorias imigrantes nos países da Europa, em especial das de origem não-europeia, é um mito piedoso.
O que resta é a desorientação e o anúncio de um barril de pólvora de rastilho aceso e com ramificações que não sabemos onde podem ou não chegar, embora por cá se acene com displiscência como se a coisa não fosse possível.
A coisa é possível, e como se viu pelo pseudo-arrastão de Carcavelos, a psicose e o medo já estão instalados na sociedade.
Só que nós somos especialistas, como já escreveu há muito Eduardo Lourenço, em viver num estado de representação, que serve para nos dissociar das realidades que não queremos enfrentar.
E há realidades que insistimos em varrer para debaixo do tapete e que achamos que se resolvem com uns bancos e candeeiros novos no bairro. É verdade que não fazem mal, mas estão muito, muito longe do essencial.
AV1 (desanimado)
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