«Poderia ter-se deixado ficar por aqui, o que, levando em conta as dificuldades da situação, já seria motico para agradecer, mas o conhecido impulso para recomendar tranquilidade às pessoas a propósito de tudo e de nada, de as manter sossegadas no redil seja como for, esse tropismo que nos políticos, em particular se são são governo, se tornou numa segunda natureza, para não dizer automatismo, movimento mecânico, levou-o a rematar a conversa da pior maneira.» (Saramago, As Intermitências da Morte, p. 18)
José Saramago voltou às lides e, para minha felicidade que me canso, por vezes, a lê-lo, o novo livro fica pelas 200 páginas.
O tema interessa-me mais do que o de qualquer outro livro dele, pois lida com a única certeza que temos nesta vida que é a Morte.
Ora neste romance a Morte fica em suspenso durante 7 meses, perturbando imenso toda a organização da sociedade.
Não vou adiantar mais detalhes, para não defraudar potenciais leitores, mas não deixo de referir que é um livro com uma carga de esperança maior do que a média e um detalhe perturbador para mim pois surge, a certa altura da narrativa, a decisão de a Morte se anunciar com sete dias de antecedência aos futuros defuntos.
O que fazer neste entretanto, enquanto ela não vem, sabendo-se que virá ?
Por isso, As Intermitências da Morte entra para o meu top (não muito alargado) de preferências saramaguianas pois, talvez pela primeira vez, entra por um assunto que mexe comigo desde que o descobri.
É que, ao contrário da Morte que num conto de Woody Allen sobe pelo algeroz e aceita jogar às cartas com aquele que veio buscar, aquela com que lidamos tem muito menos sentido de humor e uma graça nula.
AV1
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