segunda-feira, novembro 14, 2005

O Vazio

Enquanto esperava ontem pelo professor de todos nós, Marcelo de sua graça, levei com uma parte de uma entrevista no Telejornal de ontem com a Ministra da Educação.
Não me vou debruçar muito sobre o assunto, para não tirar o lugar a muitas amigas e amigos professoras(es), que lhe devem estar com uma poeira que não se pode.
Nem vou muito (re)bater na demagogia de certas medidas.
Apenas vou salientar a forma actualmente mais corrente de politicamente correcto e, em simultâneo, de fugir a questões mais incómodas.
A fórmula agora é, perante casos concretos que demonstram a asnice de certas iniciativas ou acções, afirmar que não devemos individualizar, particularizar, personalizar ou "fulanizar" as coisas sob o risco de perdermos a perspectiva global.
Isto é uma patranha !
A verdade é que se as leis devem ser consideradas em termos abstractos e elaboradas de modo a aplicarem-se a todos os cidadãos, sem atender a particularismos, não é menos verdade que a sua execução prática deve ser estudada primeiro.
Ora a Ministra da Educação refugia-se na abstracção e recusa a análise das situações concretas, quando lhe apontam as incongruências de medidas preparadas à pressa, sem planeamento ou estudo prévio.
Depois, em vez de reconhecer os equívocos do que decretou, atira as culpas para os outros por não saberem aplicar o que ela tão bem idealizou.
Mas sempre sem aceitar concretizações.
Em nome da pureza dos princípios.
Uma ova mal-cheirosa é o que é !
O mesmo se passa em várias áreas da nossa vida. Se há áreas em que o ataque pessoal é afiado, o certo é que muitas mais há em que - com o medo de apontar os casos que consubstanciam certas atitudes, medidas ou críticas - os protagonistas se refugiam no vazio exemplificativo.
Eu discordo deste tipo de politicamente correcto, irmão amigo do outro que desencoraja a intervenção dos cidadãos na denúncia de situações particulares que acham estar erradas e primo daquilo que se convencionou chamar "acusações políticas".
Ou seja, o senhor deputado é um mentiroso, mas é-o politicamente, claro, como se a mentira política fosse branca. Como pessoa, até o estimo muito.
Caramba...
Isto é cinismo puro.
Mesmo defendendo que existe uma clara diferença entre esfera pública e privada (aqui sempre se atacaram fundamentalmente comportamentos públicos), acho difícil uma pessoa ser profundamente desonesta do ponto de vista "político", mas ser da maior honradez "pessoal".
Porque ou andamos todos a brincar com as palavras, ou os actos têm pesos diferentes conforme sejam políticos (levezinhos) ou pessoais (mais pesadotes).
Mas então as pessoas não são as mesmas ?
Ou existe dissociação da personalidade quando se trata de desonestidade política ?
Se um tipo é desonesto "politicamente" isso é menos grave ?
É que a ser assim, isso é uma admissão claríssima da menoridade da vida política, pois o que lá se passa não é para ter em grande conta.
É tudo discurso, não é nada para levar a sério.

AV1

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