segunda-feira, novembro 07, 2005

Uma Campanha Alegre

Porque razão apoio a campanha de Manuel Alegre para a Presidência ?
As razões são diversas e algumas delas até admito que se prendam com o velho gosto de apoiar quem vai contra a corrente e tem coragem de não amochar perante as disciplinas partidárias que, apesar do que a Constituição afirma, tomaram de assalto as candidaturas partidárias.
Não nos iludamos.
Excepção feita a Alegre, o que temos são apenas candidaturas partidárias, destinadas a colocar no topo da hierarquia de Estado o membro de umas das formações partidárias em confronto na nossa vida política.
É, de uma forma perversa, a recuperação do velho lema "Na Presidência um Amigo", adaptada aos actuais interesses partidários.
As candiaturas de Jerónimo e Louçã são, por muito legítimas democraticamente, apenas formas de marcar terreno e não deixar o seu rebanho de fiéis ao deus-dará aí pelas câmaras de voto em Janeiro, a votarem em total liberdade e de acordo coma sua cabeça, sem qualquer condicionamento. Para além disso, os camaradas Jerónimo e Louçã andarão a marcar-se um ao outro, a tentar medir-se e às respectivas fileiras. O primeiro com mais ímpeto depois das autárquicas, o segundo a tentar perceber o que vale mesmo.
Do outro lado, temos as candidaturas do sistema que nos governa há anos, muitos anos: Cavaco e Soares governaram-nos, com pequenos interregnos durante 20 anos, como primeiros-ministros ou Presidentes e, se as coisas hoje não estão boas, muito a eles o devemos, não sendo Guterres, Durão e Sócrates mais do que aprendizes atrapalhados dos seus mestres. A década que se seguiu à entrada na CEE, em que o dinheiro choveu em forma de subsídios, é da plena responsabilidade da dupla Soares/Cavaco que, apesar do que fizeram, muito deixaram por fazer e de fazer, antes preferindo acomodar-se à facilidade dos tempos. Sendo muito diferentes, isso os une.
Embora Cavaco se tenha agigantado desde 1995, sendo maior do que o partido onde nasceu, enquanto Soares se deixou apoucar no espartilho de uma clique do partido que fez nascer.
Por isso, e não só, Alegre é a verdadeira Terceira Via, mas no bom sentido.
É alguém que, apesar dos humores, sempre revelou uma coerência própria.
É alguém que, apesar de o terem propositadamente humilhado e mandado amochar, optou por levantar a voz.
É alguém que, apesar dos politicamente correctos que nos querem moldar a opinião e o comportamento, não tem receio de defender uma ideia de Portugal, em que os ideais de esquerda, de republicanismo e de patriotismo não se envergonham de o ser e não passam de mera cosmética.
É alguém que levanta a voz e, mesmo sabendo pode ser para não ganhar, vai à luta e assume a diferença de postura e de atitude.
É ele que cumpre a Constituição que temos, onde se afirma que as candidaturas à Presidência da República são de carácter unipessoal e não resultados de cálculos estratégicos de direcções partidárias.
É verdade que Cavaco também vai por esse caminho e que o PSD, nos dias que correm, não teria força para se lhe opôr mesmo se Santana Lopes por lá andasse, mas a verdade é que ele há muito era o Desejado do Centro-Direita (excluem-se os duzentos ou trezentos betinhos e betinhas da Juventude Popular e ex-assessores de Paulo Portas).
Mas Manuel Alegre é algo mais do que isso, do que uma repetição a 10 anos de distância de um desígnio adiado; Alegre é alguém que surge como uma derradeira esperança de isto não se tornar o quintal privativo dos Coelhos e Vitorinos deste país ou uma nação sem memória do passado e do que foi o período final do cavaquismo e tudo aquilo que o simbolizou (dos buzinões aos apressados IP's desenhados ao sabor da incompetência, não esquecendo os Duarte Limas e Zézés Belezas de então).
Por isso, mesmo apenas no meu cantinho, encontro a única hipótese de me deslocar para votar pela terceira vez de seguida (o meu recorde pessoal).
Se ele não passar à 2ª volta, fico em casa.
O Cavaco, apesar de tudo, já não me assusta.
O Soares, por tudo o que o envolve agora e pelos riscos que acarreta, assusta-me mais.

AV1

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